Entre o distanciamento e restrição ao papel de financiadores de campanhas do passado recente ao engajamento atual, a posição do empresariado na campanha eleitoral mudou muito. Se a participação é um direito, é preciso obedecer aos limites legais e éticos. Depois que o jornal Folha de S.Paulo apontou a compra de mensagens de WhatsApp por empresas, o que contraria a lei eleitoral, o Instituto Ethos achou necessário se manifestar. Em nota, a entidade classificou o episódio como “interferência ilegal de empresas em nosso processo democrático” e afirmou que “não condiz com o processo de desenvolvimento que estamos verificando no setor privado brasileiro em relação à agenda de integridade e transparência”.
– Acreditávamos que tivesse acabado. Dado que a grande corrupção é o financiamento eleitoral, essa forma que apareceu, ilegal e irregular, também se pauta no interesse de investir agora para depois ter retorno. Essas empresas não mudaram suas práticas – disse à coluna Caio Magri, presidente do Ethos.
Magri observa que é preciso investigar para comprovar se houve financiamento ilegal. Caso seja confirmado, avalia, é necessária punição exemplar:
– Caso isso não ocorra, nossas instituições serão fantoches.
Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos da iniciativa privada, o Instituto Ethos se dedica a ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável. O que levou a entidade a se posicionar de forma dura, detalha Magri, foi o contraste entre a indignação com a corrupção tal como apontada até agora e a nova forma de financiar campanhas políticas:
– Fizemos, de 2000 a 2016, oito manuais a cada dois anos, atualizando a legislação eleitoral, as boas práticas em outros países, Demos um roteiro sobre como as empresas deveriam participar da campanha de maneira ética, íntegra e responsável. Essa é uma questão muito cara a nós. Imaginamos que jamais aconteceria de novo dessa forma.
Os casos de coação de funcionários, no primeiro turno, haviam dado sinal de que a prática anda distante do discurso.