A coluna já publicou um título muito semelhante a este, e há não muito tempo. Foi em dezembro de 2016, quando os executivos da Odebrecht fizeram um acordo de delação, provocando reunião de emergência entre o presidnete Michel Temer e o ministério. Em abril passado, o conteúdo foi conhecido e, como se esperava – para alguns – ou se temia – para outros, atingiu oito ministros.
A situação no Planalto e na Esplanada só piorou com outra delação, a da JBS. Nesta semana, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a julgar a chapa Dilma-Temer. Há torcida para que tome a decisão possível frente ao que o país sabe: a cassação.
A perspectiva de pedido de vista e, mesmo tomada a decisão, a de que o presidente estique a permanência no poder com recursos jurídicos reabre o dilema. O Brasil segue o roteiro da sarneyzação, com um presidente fraco contando os dias para o final do mandato, no modelo americano “pato manco” (lame duck), ou evolui para um cenário que pode desembocar na fórmula argentina do início do século, com cinco presidentes em período de 15 dias.
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Em dezembro de 2001, o presidente Fernando de la Rúa, cujo vice havia renunciado meses antes, fugiu da Casa Rosada de helicóptero, cercado pelo furor popular diante da quebra do país: faltava dinheiro nos bancos, alimentos nos supermercados. Como não havia vice, o então presidente do Senado, Ramón Puerta, assumiu e convocou eleição indireta. Foi escolhido Adolfo Rodrigues Saá, na época governador da pequena província de San Luis. Renunciou em cinco dias. Veio o presidente da Câmara, Eduardo Camaño, que presidiu o Réveillon. Em 1º de janeiro de 2002, Eduardo Duhalde foi eleito pelo Congresso. Ficou até o final do mandato de De la Rúa.
No Brasil, a sucessão não seria tão rápida. Mas existe risco de ter o mesmo rodízio. Como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, estão na lista da Odebrecht, há possibilidade de que assumam apenas para repetir o modelo argentino. Para a economia, qualquer das opções é ruim. E o pior é que a situação frágil, mas ainda manejável, no cenário econômico ajuda a evitar um desfecho de despejo forçado.