Sim, o resultado do PIB de 2016 veio menos ruim do que se temia, considerando o indicador de atividade do Banco Central, que apontava tombo de 4,3%. Esse dado, que já foi chamado de "prévia do PIB", sabe-se bem hoje, não tem o mesmo alcance das contas trimestrais do IBGE que oficializaram a maior recessão vivida pelo Brasil desde 1948. Mas o alívio com os dados divulgados ontem pelo IBGE termina por aí. É difícil encontrar, ao olhar a economia brasileira pelo retrovisor, sinais alentadores do caminho à frente.
Explicando: embora os dados reflitam a realidade passada, também mostram que a economia ficou ainda mais distante do terreno positivo. A conexão entre o retrovisor e o caminho à frente é fácil de entender: quanto maior a queda, mais difícil é a recuperação até voltar ao campo positivo, tanto na vida real quanto no que os especialistas chamam de "carregamento estatístico".
No último trimestre de 2016, o desempenho foi ainda pior do que no período anterior, o tipo de comparação que melhor reflete o ritmo da economia. Esperava-se o oposto: ao menos a famosa "despiora", depois que ficou claro que não haveria reação. De outubro a dezembro, houve – pequeno, mas preocupante – aprofundamento na queda da atividade. O recuo de 0,7% no período entre julho e setembro deu lugar ao declínio de 0,9% de outubro a dezembro. Quer dizer que a economia brasileira ficou mais distante do terreno positivo, portanto será preciso mais tempo e esforço para a recuperação.
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A estatística confirmou a sensação experimentada ao longo do ano passado: o segundo trimestre foi o "menos pior" de 2016. Não por acaso um momento em que nos enchemos de expectativas, frustradas na sequência. Na comparação de cada trimestres com o mesmo período do ano anterior, o Brasil acumula 11 sequências negativas (veja no gráfico).
Além do ritmo mais acentuado de queda que terá de ser revertido, há outro indicador de futuro no PIB do ano passado. É o termômetro do investimento, medido pelo item chamado Formação Bruta de Capital Fixo. De abril a junho de 2016, o número havia registrado pequena recuperação, de 0,6%, mas voltou a cair 2,5% no trimestre seguinte e fechou o ano com novo recuo de 1,6%.
Apesar dos discursos tranquilizadores do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do presidente Michel Temer, a azáfama para apresentar novos projetos de infraestrutura indica que o governo fez a leitura correta dos resultados. Tanto investimentos em infraestrutura quando novos e mais profundos cortes no juro básico ajudam. Mas demoram a fazer efeito. O PIB de 2016 é a economia vista no retrovisor, mas a imagem do passado ainda não permite prever que será possível trafegar com muito menos solavancos no futuro.