
Eu contei aqui, há duas semanas quando escrevi sobre o Cristo Protetor de Encantado, o quanto sou católico e tenho orgulho disso. Hoje quero compartilhar um outro relato. Quando tinha 18 anos, em 2009, me vi perdendo a fé. A Igreja já não conversava comigo. Eu, já sabendo da minha sexualidade, me sentia marginalizado nas falas de padres, bispos e até do Papa. Bento XVI não era carismático.
A semana começou com a triste notícia da morte do papa Francisco. Ele não foi apenas “mais um papa”, foi um papa muito querido e que sacudiu a instituição mais tradicional do planeta.
A Igreja Católica passa pela maior provação desde a sua criação. Os tempos de internet, a geração crescente de ateus e, inacreditavelmente, a briga política entre conservadores e liberais dentro do próprio Vaticano.
Quero trazer aqui uma indignação. O total desrespeito de algumas pessoas que foram para a internet e tiveram a coragem de publicar textos, fotos e vídeos ofensivos, rotulando o papa Francisco de comunista, criticando a conduta dele em relação a temas contemporâneos. Independentemente da sua fé, não lhe cabe num momento de partida fazer algo desse tipo. É pequeno, mesquinho. E, olha, teve até político fazendo isso. Que papelão!
Não espero ter um casamento na Igreja com outro homem. Prefiro, de verdade, comemorar com amigos. Mas eu tenho direito de encontrar amparo para a minha fé — e no que eu acredito. Fui batizado, fiz quatro anos de catequese, confirmei minha fé na crisma e gosto de ir à igreja.
Foi o papa Francisco que me fez voltar a confiar na Igreja Católica. A questão importante aqui a esclarecer é que o Papa não autoriza ou desautoriza as minhas atitudes particulares. Eu teria perdido a minha fé, mas não deixaria de ser quem sou. Mas agradeço a Francisco por ter me dado a possibilidade de me sentir parte, de me sentir bem-vindo de novo.
A Igreja não pode retroceder ao pensamento da Idade Média, quando, aliás, ela foi responsável por muitas coisas que hoje são inimagináveis. O tempo no universo existe para que a gente evolua. Se você acredita em Deus, assim como eu, deve ter orgulho de ser tolerante, respeitoso, caridoso.
A fé de ninguém é maior ou mais nobre que a sua. Na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2023, ele disse: “Não tenham medo”.
Num mundo tão cruel — e, justamente nesse período, tão polarizado e com tantas ameaças as liberdades individuais — a voz de Francisco fará falta.