
A figura mais intrigante de um governo Trump para lá de errático é Elon Musk, que acumula dois recordes: os títulos de homem mais rico do planeta e o de ter sofrido a perda mais brusca da história. Desde que Musk se tornou copresidente dos EUA, sua fortuna encolheu 1 trilhãozinho de reais. Não que vá lhe faltar algum para quitar os boletos do mês, mas o que leva alguém a incinerar tamanho ervanário — e, com ele, sua fama de gênio — em tão pouco tempo?
Poder é a resposta mais simples. Para quem compra qualquer coisa material na Terra, mas não um assento na segunda fila de um encontro dos chefes de Estado do G7, a conta bancária não vale tanto. Ter acesso livre aos ouvidos do presidente da maior potência também é um ativo precioso, mas, em tese, essa proximidade — uma promiscuidade, de fato — estaria destinada a proteger a solidez de seus negócios, e não a afundá-los no redemoinho da queda vertiginosa das ações da Tesla.
Musk pode ter sido genial na percepção de que o mundo ansiava por um novo Bill Gates, desta vez capaz de fazer foguetes pousarem de ré no regresso à base ou produzir um veículo elétrico que virou sonho de consumo de uma elite econômica preocupada com o aquecimento global. Mas o sul-africano não entende de política, e menos ainda de como funciona a máquina de criar ou moer reputações.
Só na Alemanha, onde Musk se colocou a serviço da AfD, o radioativo partido da extrema direita do qual as demais legendas não querem chegar perto, as vendas da Tesla caíram 50% em um ano. O que disparou foi a venda de um adesivo colado nos Tesla por agora milhares de constrangidos proprietários e que diz: “Comprei isso antes de Musk ter ficado louco”. Na mistura da política com negócios, o trilionário se mostra um amador. Só no dia em que admitiu à Fox News que estava conduzindo suas empresas com “muita dificuldade” desde que entrara no governo, as ações da Tesla caíram 15%. O governo Trump e as doideiras do tarifaço devoraram 45% de valor das ações desde janeiro.
A fortuna de Musk tem muito óleo para queimar, mas sempre há um limite. Empresários personalistas, impetuosos e egocêntricos — alguém aí lembrou de Eike Batista? — tendem a subir como um foguete e a explodir no firmamento da própria volúpia. Ser bilionário e político não é crime. Sebastián Piñera, que era o homem mais rico do Chile, foi eleito duas vezes, fez governos bem razoáveis e seguiu tão abonado como antes. Gabriel Noboa, herdeiro bilionário, foi reeleito no Equador, assim como ocorreu com o bilionário José Alencar, duas vezes o ponderado e leal vice-presidente de Lula. O problema é ser bilionário, político e um tresloucado imaturo, como Musk. Aí, o mercado não perdoa.