Três ingredientes explosivos estão se conjugando para manter o planeta com a respiração suspensa a partir deste 20 de janeiro, quando muda a guarda na Casa Branca. Somam-se um Donald Trump com jeito mais doidão, um governo de fanáticos ultranacionalistas e, para coroar, o afrouxamento das políticas de combate à desinformação, com estímulo, portanto, a fantasias e teorias da conspiração.
Não será um mundo mais fácil para se viver a partir de segunda-feira. Aliás, já não vinha sendo, como se vê nos incêndios na Califórnia. Os bombeiros têm de combater em duas frentes: contra a vegetação em chamas e as mentiras que ganham terreno como fogo em palha seca. Uma delas, postada no X e visualizada 29 milhões de vezes em poucos dias, sustentava que os bombeiros não tinham baldes porque haviam sido doados à Ucrânia. Governada por democratas, a Califórnia, assim como o Rio Grande do Sul afligido pelas enchentes, descobriu como a ideologia extremista não tem pudor de se infiltrar nas tragédias para impingir, via redes sociais, danos políticos a adversários.
Não será um mundo mais fácil para se viver a partir de segunda-feira
A ausência de adultos na futura sala de controle da maior potência do planeta é assustadora, a começar pela inacreditável nomeação de Robert Kennedy Jr, um negacionista das vacinas, para o cargo de secretário da Saúde. Deste ambiente podem se descortinar três horizontes. No primeiro, Trump e suas redes de mentiras distraem o mundo com fanfarrices contra Canadá, China, Panamá, Dinamarca como parte de uma estratégia de barganha. Recorde-se que há oito anos ele prometeu erguer um muro em toda a fronteira com o México com dinheiro mexicano. Construiu cerca de 130 quilômetros com dinheiro americano. Neste cenário, Trump exploraria algumas exibições públicas de deportações, faria aumentos cirúrgicos em tarifas e obteria alguns acordos vantajosos aos EUA.
No outro horizonte, ele realmente aplica a doutrina Trump de usar o porrete e estraçalha alianças que se consolidaram desde o fim da Segunda Guerra. O cenário é improvável, mas não impensável: seja pela força das armas, pela expulsão em massa de ilegais ou por uma guerra de tarifas, os maiores derrotados seriam os cidadãos dos EUA, que perderiam mão de obra barata, teriam inflação e juros em alta e tornariam a China um parceiro cada vez mais simpático ao resto do mundo.
Há ainda um terceiro horizonte, bem plausível. Trump estaria apenas se fazendo de louco, tanto quanto Javier Milei o foi antes da posse. Lembram que Milei iria acabar com o Banco Central e sacramentar o dólar como moeda da Argentina? Não se fala mais do assunto. De Trump se espera qualquer coisa, até, inclusive, esquecer tudo e fazer de conta que era isso mesmo.