<P>Na refrega do impeachment, o governo já estava imobilizado por uma chave de braço, prestes a ser nocauteado, quando eis que, diante da antevisão do inferno, o gongo dos ativistas do PT somou-se ao mercado de consciências do Congresso para resgatar Dilma e o partido de um desfecho certo. Pode-se dizer o que se quiser do PT, mas o partido tem confirmado seu traquejo em montar narrativas para conquistar corações e mentes, crucial na hora de deputados pressionados por eleitores anunciarem seus votos ao microfone da Câmara. </P>
<P>O PT - leia-se o instinto de Lula, como sempre - detectou que, se quisesse ter uma chance de sobrevivência, precisaria sacudir os militantes e tirá-los da anestesia. Passo inicial: convencê-los de que não estão indo às ruas defender líderes corruptos ou o detestado ajuste fiscal. O partido apagou da agenda os dois temas desconfortáveis e reuniu todos os grupos de apoio em torno de três mensagens simples: "impeachment é golpe", "em defesa da democracia" e "pedaladas não são crime". </P>
<P>Para injetar ânimo extra, era preciso rejeitar o abundante noticiário negativo que emana de Curitiba. Todos os atos de Sergio Moro, do Ministério Público e da Polícia Federal que atingem petistas são agora carimbados como um complô associado à "mídia golpista" para esboroar a democracia e as conquistas sociais. Assim, no lugar de se desolarem pela cruel realidade dos fatos, muitos velhos e sinceros militantes incorporaram o estágio da negação e ressoam o que consideram a luta decisiva pelo seu antigo projeto de vida.</P>
<P>Ato contínuo, movimentos sociais que gravitam em torno do PT voltaram a propalar o discurso do medo que deu tão certo nas eleições passadas: eles ("a elite golpista") querem acabar com a Carteira de Trabalho, o Bolsa Família, os direitos dos aposentados e, se deixarem, decretar a volta da escravidão. Como o contraponto não existia formalmente - Michel Temer não pode agir como se estivesse em campanha aberta -, a fala do medo disseminou-se sem barreiras até o PMDB perceber a jogada e trocar o comando do partido para oferecer reação pública. </P>
<P>Já os militantes anti-Dilma tiveram seus melhores momentos nos panelaços que ecoaram nas noites do Brasil, na sacada do Pixuleco e, naturalmente, no maior protesto da história do país. Mas meteram os pés pelas mãos quando alguns aloprados assumiram táticas radicais, como hostilizar a família do ministro Teori Zavascki ou montar barracas em ruas e avenidas, cassando o direito de ir e vir. O PT percebeu que tinha um trunfo na mão: deixou inexperientes talibãs alheios se incinerarem e, com muito esforço, conteve - até agora - manifestações de rua violentas, que sempre afugentam apoio popular. Era pueril alguém ter imaginado que o PT marcharia cabisbaixo para o cadafalso. Na política, ainda mais em um momento como este, não há lugar para os ingênuos.</P>
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