O Uruguai ferve nesses primeiros dias de data Fifa e busca explicações para a metralhadora verbal de Luís Suárez conta Marcelo Bielsa. O ambiente na seleção ainda se recobra do tsunami provocado pela entrevista do centroavante, em que revela desagrado de jogadores e incômodo com decisões do técnico argentino.
Acompanhando o noticiário dos principais meios de Montevidéu, percebe-se uma divisão clara. Há quem critique Suárez por fazer as críticas depois de se despedir da seleção, da qual era o capitão no adeus, e por expor intimidades que deveriam ficar restritas ao vestiário.
O jornal El Observador, em um texto no qual busca explicações para a atitude do centroavante, aponta que "algo não encaixa na queda de braço de Suárez com Bielsa". Recorda que, há 10 meses, numa entrevista concedida ainda em Porto Alegre, o jogador foi elogioso ao técnico, relatando que havia bom clima no vestiário e respeito mútuo.
— Os jogadores que estiveram com ele estão aprendendo muito e desfrutando de uma linda etapa na seleção — disse Suárez na ocasião.
A relação azedou na Copa América. Bielsa nunca foi um técnico flexível em suas relações. Teve uma criação rígida ao extremo e levou isso para a vida adulta e, claro, para seu perfil como treinador.
A timidez e o medo de que uma relação mais afetuosa confunda os jogadores fizeram dele um sujeito hermético. Os uruguaios, por sua vez, têm como traço a convivência mais cercana, o bom trato.
Na seleção, a relação com Maestro Tabárez era símbolo disso e de uma camaradagem que transformava o ambiente em algo familiar. Diego Alonzo, quando assumiu, manteve isso, mas fracassou no campo.
Treta celestial
A busca da AUF por Bielsa tinha como um dos objetivos resgatar hierarquias. Além de promover profunda renovação na seleção.
O primeiro ano com o argentino teve resultados expressivos e uma boa arrancada nas Eliminatórias. O Uruguai ganhou da Argentina em Buenos Aires e do Brasil em Montevidéu.
O lastro permitiu que Suárez voltasse. Porém, isso se deu com Bielsa sendo o protagonista da seleção, e não a sua maior estrela.
O El Observador, em seu texto, levanta a possibilidade de que Suárez tenha voltado para ele próprio definir seu adeus na seleção, e não Bielsa. Sua renúncia se deu justo em momento no qual o técnico tinha carências no ataque.
As declarações de Suárez, além do tsunami, dividiram a seleção. Alguns jogadores se pronunciaram contrários a publicação de algo íntimo do vestiário. Rochet, indicado pela AUF para se manifestar sobre o caso, confirmou que os apontamentos feitos por Suárez, realmente, eram verdade.
Bielsa não cumprimentava os atletas, havia proibido os funcionários de dividirem espaços com os jogadores, entre outros pontos.
O goleiro, porém, observou que essas diferenças deveriam ser resolvidas "a portas-fechadas".
O lateral Nahitán Nández, de volta à seleção pelas mãos de Bielsa, desmentiu o centroavante ao dizer que não havia sido informado de que daria as declarações.
Não desmentiu o teor das críticas, porém, disse que os jogadores "estão com o técnico e querem que o Uruguai vá bem".
O zagueiro Giménez também disse que desconhecia os planos de Suárez de tornar pública a tensão no vestiário e se disse um "peão, a serviço da seleção e agradecido ao técnico, pelas ferramentas que ele dá ao grupo".
Bielsa só se pronunciará depois da partida contra o Peru, nesta quinta. Até lá, o ambiente da celeste segue em modo tsunami.