
Diego e Diogo nasceram juntos, começaram a jogar futebol juntos e, aos 35 anos, decidiram se aposentar juntos os gramados. Os gêmeos que embalaram os sonhos colorados nos anos 2000 e foram símbolos do começo da virada do Inter começaram na quinta-feira (5) uma nova etapa na vida. Juntos, claro. Os dois desenham um projeto ligado ao futebol e que está em fase final de elaboração. Serão sócios. Nada de novo, para quem já é compadre, vizinho, irmão e, principalmente, como eles mesmo definem, amigos com uma ligação que chega a impressioná-lo.
A coluna conversou com Diego e Diogo. Incrivelmente, eles não estavam juntos. Foi preciso fazer duas entrevistas. Mas, pelas respostas, parece até que estavam lado a lado, tamanha a afinidade. Confira:
Vocês não podem parar de jogar. Entrevistei-os com 15 anos. Não estou tão velho assim.
Diego – (Risos) Que bom se desse para continuar e ser eterno. Mas chega uma hora em que você tem de pensar bem se vale continuar. Não foi uma decisão tomada agora, nem na emoção. Vinha pensando bastante, com a família e o Diogo. Quando voltei de Portugal, em 2019, tive dificuldade para seguir jogando. Isso foi um dos motivos que me fizeram parar. Fiquei 10 anos fora, e as portas se fecharam no mercado, meu mercado se abriu mais lá fora do que aqui. Eu e o Diogo, temos um projeto na área do futebol, vamos anunciar mais adiante. Teremos como sócio o Rodrigo Paulista, que também foi formado no Inter. Isso também nos motivou a dar esse ponto final.
Diogo - É verdade, passa voando o tempo. Esse dia tem sido diferente. Desde a publicação no Instagram até agora, tenho recebido várias mensagens. Impossível não se emocionar. A gente dá uma respirada, disfarça, se não fica chorando o tempo inteiro. Já vinha pensando havia um ano e meio em parar. Com a volta do Diego, em 2019, fortalecemos nossa ideia. Temos nossos projetos. Não era mais o que a gente queria, ficar cinco, seis meses empregado, rodando pelo Interior. Foi uma decisão conjunta. Temos essa ligação forte, conversamos muito mesmo. Há duas semanas decidimos que era hora de parar e pensar no futuro.
O plano de vocês era encerrar jogando juntos?
Diego – Quando voltei de Portugal, o propósito era esse, de jogar juntos em 2020. Estive no Esportivo, logo depois da quarentena, para disputar aquela parte final do Gauchão ao lado do Diogo. Só que tive uma lesão e não deu para ficar. Seria perfeito, encerraríamos a carreira atuando juntos. Quando regressamos para Porto Alegre, ao final do Estadual, só se fortaleceu a ideia de parar.
Diogo – Sim. Quase deu. O Diego chegou a se apresentar comigo lá em Bento. Só que ele estava havia um ano e meio parado, no terceiro dia, sentiu a panturrilha. Não daria tempo de recuperar para jogar aquela parte final do campeonato. Era uma grande oportunidade.
Como é jogar junto do irmão gêmeo?
Diego – Começamos a jogar sério, com nove anos. Foi numa escolinha que se chamava Viva bola, em 1994. São 26 anos de estrada. Fomos juntos para o Inter, em 1997. Subimos praticamente juntos para o profissional, em 2003. O Muricy Ramalho me promoveu logo que voltei da Copa SP. Uma semana depois, ele chamou o Diogo.
Diogo – Até o momento de cada um seguir a sua trilha, foi tudo junto. Quando o Diego saiu do Inter, em 2005, parecia que tinha um buraco dentro de mim. Foi triste, apesar de ele estar indo para o Santos. Mas era por tudo que vivenciamos, pela liga de irmão, por ser gêmeos. Fiquei muito triste. Ali, foi um laço cortado. Digo que tive um laço cortado em 2005, quando me separei do meu irmão, e outro em 2008, quando nossa mãe morreu.
Vocês sempre foram ligados assim no dia a dia de treinos?
Diego – Era tudo junto. Íamos para o treino juntos, voltávamos juntos. Foi uma parceria. Além de irmãos gêmeos, sempre foi uma amizade muito grande, dentro e fora de campo. Achamos justo encerrar a carreira no mesmo dia.
Diogo – Temos essa vibração, essa sintonia. O Diogo até sugeriu que eu seguisse atuando, por estar com mais gás. Mas o que eu mais queria era retomar essa rotina com o meu irmão. É impressionante a afinidade que temos, um sempre deu apoio para o outro. Acabou sendo até mais fácil a decisão de parar. Dividimos esse peso. Nossa diferença é e 15 minutos, foi o tempo que separou nosso nascimento. Hoje (quinta-feira), quando postamos a mensagem de despedida no Instagram, por coincidência, foi com esse mesmo tempo de diferença. Brinquei com o Diego, que ele nasceu antes, mas, agora, eu me adiantei na postagem. Ele me ligou há pouco para perguntar se eu estava chorando muito.
Você se despede do futebol realizado?
Diego – Sim, muito. Fiquei 10 anos fora do país. Atuei na China, em Portugal, no Chipre e na Tailândia. Joguei playoff da Liga Europa e da Liga dos Campeões. Foi bem completa a minha carreira, tive passagem pela seleção sub-20. Só tenho de agradecer.
Diogo – Saio satisfeito, foi incrível. Além dos meus sonhos. Atuei no clube do meu coração, estive em outros times tradicionais, como Coritiba e Sport, vivi um ano na China, uma experiência que diria para meu filho ter. Tive passagens por seleções de base. Foi gratificante. Encerro a carreira muito feliz e grato.
Como é a relação de vocês fora do futebol?
Diego – O Diogo é padrinho da minha filha, a Amanda, de 14 anos. Sou padrinho do Antônio, filha dele, de seis anos. A família toda está emocionada. Revivemos tudo o que passamos nesses mais de 20 anos. Vem a lembrança da minha mãe, que perdemos cedo, dos nossos avós, que foram pilares para nós. Temos o pai, que foi nossa referência como jogador e como homem, e o nosso irmão mais velho, o Thiago, que foi jogar no Inter e nos serviu de espelho. Assistíamos a quase todos os jogos dele.
Diogo – Somos vizinhos, moramos no mesmo condomínio, só que em torres diferentes. Não há um dia em que não nos vemos. Ou ele vem na minha casa, ou eu vou na dele. Nos encontramos para correr juntos, diariamente fazemos algo. Nossas mulheres se dão bem. Os nossos filhos, então, nem se fala. Crescemos assim, fomos unidos com nosso irmão mais velho. Ao natural, nossos filhos acabam vendo que temos uma ligação muito forte.