Lembram-se dos gêmeos do Inter? Depois de 11 anos, Diego, o primeiro deles a ser promovido no Inter, está de volta ao futebol brasileiro. O agora meia fechou as malas em Portugal e encerrou uma volta ao mundo que teve passagens por China, Chipre, Tailândia e duas vezes pelo país de Cristiano Ronaldo — não só o país, como também a Ilha da Madeira, onde o astro nasceu e tem negócios, como um hotel de luxo. Por telefone, Diego conversou com a coluna.
Foram 11 anos longe do Brasil e algumas histórias boas para contar.
Sim, muitas histórias (risos). Fui, com o meu irmão, um dos brasileiros desbravadores do futebol chinês. Ficamos dois anos lá. Depois, vim para Portugal, para a primeira passagem, que foi de quatro anos e meio. Saí para jogar no Chipre, troquei a Ilha da Madeira por outra ilha. Atuei pelo Limasol, tive o prazer de jogar a Liga Europa e a Champions League. Do Chipre, fui para a Tailândia. Fui campeão, mas a passagem foi marcante pelos fatores extracampo.
O que houve lá?
O contrato era de dois anos, mas fiquei apenas um. O presidente foi preso por corrupção, e a confederação local puniu o clube, o Police United. Éramos os atuais campeões, mas lá corrupção é tratada de forma severa. Mesmo com um novo presidente, o time foi rebaixado para a quarta divisão e ficou um ano sem atuar. Saí de lá com cinco meses de salários atrasados. Nem busquei ressarcimento porque os advogados diziam que não havia solução, já que o clube tinha decretado falência e não havia de quem cobrar. Depois soube que o motivo da prisão desse dirigente era por causa de esquema de pirâmide financeira. Ele era um dos 100 homens mais ricos da Tailândia.
Como ficou sua situação nesse caso?
Isso tudo foi em março de 2016. Na janela, em dezembro, tive proposta para voltar a Portugal, do Feirense, e rejeitei. O presidente tailandês sempre procurava os estrangeiros no vestiário para garantir que, apesar das denúncias de corrupção, ele comprovaria sua inocência. Como a janela europeia estava fechada, fiquei sem clube. O Julinho me convidou para jogar com ele, no Brasília. Fiquei três meses e disputei o Candangão. Foi minha única passagem pelo Brasil nestes 11 anos. Logo voltei para Portugal, onde estava até agora.
Por que voltar ao Brasil quando muitos brasileiros fazem o caminho contrário, de ir morar em Portugal?
Acabou meu contrato. Não foi uma temporada boa, o Nacional voltou para a Segunda Divisão. Tive sondagens para voltar ao Chipre. Só que pesou a questão familiar. Minha filha (Amanda) tem 13 anos e, no Chipre, teria de estudar em escola internacional, muda muito. Ela já estudou na Tailândia, no próprio Chipre. Nossa prioridade era seguir com a educação deles (tem ainda Lucas, de sete anos) em português. Ainda há uma chance de voltar para Portugal, mas a negociação esfriou agora.
Sua ideia é voltar a atuar aqui no Brasil? Está preparado para a mudança, para o que encontrará aqui em termos de calendário, organização e estrutura?
Quero jogar mais uns três anos, me sinto bem, estou fisicamente ótimo. Vou analisar com calma, ver o que vai aparecer de oferta. Mas já penso no futuro. Acabei o nível 1 do curso de treinador da Uefa e pretendo aprofundar os estudos no Brasil. O curso aqui é valorizado, a escola portuguesa de técnicos está em alta na Europa neste momento. O curso foi puxado, com aulas três vezes por semana à noite. Finalizei as partes teórica e prática. Preciso, agora, de um ano de estágio para dar o curso como concluído. Com isso, poderei treinar qualquer categoria na base. O Costinha, ex-lateral da seleção portuguesa, era meu treinador no Nacional. No meio da temporada, fez um convite e deixou a porta aberta para virar auxiliar dele no futuro. Eu era o homem de confiança dele no vestiário, o capitão do time.
Nessas andanças pelo mundo, qual foi o lugar mais especial?
Na china, abrimos as portas do mercado (risos). No segundo ano, foi bem legal porque o Diogo pode ir comigo. Nossas famílias não sentiram tanto a diferença de cultura porque estávamos juntos. Foi algo que marcou, convivemos muito e conhecemos o país, deu para desfrutar além do futebol. No Chipre, deu para viver bem, é uma ilha muito especial. Aqui em Portugal foi a nossa casa, criamos amizades. É um país muito parecido com o Brasil, bom de viver, as pessoas te recebem bem.
Como você passou de atacante para meia-central?
Faz tempo, nem me lembro mais de como é ser atacante (risos). Foi aqui em Portugal, quando cheguei. Um treinador gostou do jeito de eu jogar, posicionado entre as linhas de marcação. Me colocou à frente dos volantes e atrás dos três atacantes, e eu me adaptei bem. São quase 10 anos nessa função.
Com o plano de jogar mais três anos, ainda dá para voltar a atuar com seu irmão gêmeo. Temos um plano de jogar juntos de novo. Quem sabe não acontece? Estou iniciando um novo ciclo e muito satisfeito com a carreira. Sei do tamanho da dificuldade que é construir a carreira que construí. Sempre estive atuando e com contrato. Desde 2014, sou eu que cuido dos meus acordos, eu que negocio, sem agente. A imagem das pessoas é de que ser jogador é fácil, que se está no meio tem tudo à mão. Ser atleta profissional é desafiador, tem de provar sempre. Desde o Inter, nunca me faltaram convites para jogar, e tenho muito orgulho disso.
Para encerrar, ainda mantém alguma relação com o Inter?
Só com o pessoal que trabalha na base. Esse tempo todo fora me fez perder um pouco (das relações). Voltando a Porto Alegre, quero ver o pessoal que ainda trabalha lá. Quem sabe no futuro não possa trabalhar ali dentro. A família tem uma identificação muito forte com o clube, a começar pela história do pai (o ex-lateral João Carlos). Meu filho já é bem colorado. Nas férias, sempre que era identificado pelos torcedores, recebia o carinho deles. Se for analisar com calma, a mudança de rumo do Inter começou lá em 2003, quando subimos, eu, o Diogo, o Nilmar, o Ismael, entre tantos outros. Havia muita cobrança. Quebramos uma série de 13 Gre-Nais sem vitória e, no ano seguinte, fomos à semifinal da Sul-Americana. Ali, o clube voltou a figurar no cenário nacional e internacional