Sabe aqueles bons tempos em que o Gauchão valia Copa do Mundo e mandar no Rio Grande Sul era a missão a ser cumprida na temporada? Eles voltaram. Os anos 1970 e 1980 retornaram à órbita do futebol gaúcho. O Gre-Nal 418, no cair da noite de domingo (17), na Arena, ganhou ares retrô com a decisão do presidente do Inter, Marcelo Medeiros, de mandar reservas a campo, em protesto ao aumento da punição de Nico López para quatro jogos. O TJD-RS havia aplicado dois jogos, e o Pleno dobrou essa conta. Acendeu-se, assim, a fogueira que incandesce o Gauchão 2018.
Mas não pense que o Gre-Nal, por ser de reservas, perde o valor. Longe disso. A história centenária do clássico mostra que, muitas vezes, decisões como a tomada por Medeiros na sexta-feira podem servir de atalho para virar história. Você, em algum momento, já deve ter ouvido falar do Gre-Nal do Popéia. O ano era 1980, e o personagem em questão, um atacante surgido nas categorias de base.
O Inter havia mandado os titulares e o técnico Ênio Andrade para amistosos contra Atlético de Madrid, Ajax, Barcelona e Roma, na Europa, e mais alguns jogos no Catar. Em Porto Alegre, ficaram reservas e os guris vindos da base. Entre eles, Popéia.
O Gre-Nal encontrou o Inter nove pontos atrás do Grêmio, campeão do turno, e com um time emergencial. Até o técnico, Pedro Figueiró, era reserva.
Mais de 29 mil torcedores, boa parte deles gremistas, confiantes numa goleada, viram Popéia fazer dois gols e garantir um empate contra um time que tinha Leão, Dirceu Jarrão, Paulo Isidoro, Tarciso e Baltazar. Popéia nunca teve espaço no Inter, mas ganhou o direito de batizar um Gre-Nal só seu.
Em 1994, a uma semana do Natal, o Grêmio mandou reservas a campo para fechar um Gauchão melancólico, que ficou conhecido como "interminável" por se arrastar meses a fio. O Inter já era campeão, mas mandou a campo o melhor que tinha — e não era muito. A tarde daquele sábado começou com um calor sufocante e terminou com uma chuva torrencial e um goleiro desempregado.
O Inter fez 4 a 1 e tirou o emprego de Aílton Cruz. Uma boa atuação garantiria mais do que a renovação do goleiro. Faria dele um dos reservas de Danrlei nos anos dourados que se estenderiam até 1997. Só que Ailton levou quatro gols e ainda foi expulso por reclamação. Semanas depois, Felipão mandou buscar Sílvio no Joinville e fez dele campeão da América, em 1995, e do Brasileirão, em 1996 — Sílvio estaria no tri da Copa do Brasil, em 1997.
Em 1995, foi a vez de o Grêmio escrever a história com os reservas. Como avançava firme na Libertadores e na Copa do Brasil, o Grêmio usava no Estadual um time alternativo — que repetia o sucesso dos titulares e ganhou da torcida o carinhoso apelido de Banguzinho. O clássico que decidiu o Gauchão em agosto de 1995, é claro, entrou para os registros como o "Gre-Nal do Banguzinho".
Quer mais uma prova de que o jogo deste domingo pode ser uma oportunidade? Em 2011, a Dupla decidiu usar reservas para o primeiro e único Gre-Nal no Exterior. A FGF marcou o jogo para a fronteiriça Rivera. O Inter mandou seu time B, com emergentes como Moledo e Ricardo Goulart. O Grêmio escalou reservas. Renato ficou em Porto Alegre, e coube ao auxiliar Roger Machado comandar o time. O Grêmio venceu, 2 a 1. Aquele domingo em Rivera foi o primeiro passo firme de Roger para virar técnico. Quatro anos depois, ele voltaria à Arena para assumir o time.
Essas são apenas quatro episódios de uma história centenária de Gre-Nal. Mas suficientes para mostrar que, apesar da decisão do Inter de usar reservas, mais um capítulo pode ser escrito neste domingo.