O Cine Rodeio foi símbolo dos tempos áureos de Minas do Camaquã, no interior de Caçapava do Sul. Construído em madeira, abriu as portas em 1970. Como todo complexo de mineração e vilas, a área de entretenimento pertencia à Companhia Brasileira do Cobre (CBC). O empresário Francisco Matarazzo Pignatari, o Baby Pignatari, oferecia aos funcionários e suas famílias os últimos lançamentos do cinema.
O prédio ao estilo saloon parece que saiu de um filme de Velho Oeste. Fechado desde 2013, está deteriorado, lembrando um vilarejo fantasma da ficção. A prefeitura de Caçapava do Sul já tem pronto o projeto arquitetônico para restauração do antigo cinema e da praça em frente. Com R$ 1,8 milhão que busca junto ao governo do Estado, pretende abrir o Museu da Mineração, que contará a rica história da região.
O Cine Rodeio foi um espaço multiuso. Quando removiam os bancos de madeira do salão, faziam festas e bailes. O telão ficava no palco. O imóvel de 420 metros quadrados é composto por entrada com balcão para vendas, dois banheiros, camarote, grande salão e copa ao estilo de bar texano. Antes da construção, os filmes eram exibidos na rua, em uma parede.
Dedicado à pesquisa sobre Minas do Camaquã no mestrado em ciências sociais na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Norberto Quintana Guidotti de Ornelas conta que o cinema também representava a divisão social no complexo de mineração. Os funcionários mais próximos de Pignatari, principalmente da administração, ficavam nas poltronas do camarote. A maioria sentava nos bancos de madeira do salão. Ornelas morou até os 13 anos em Minas do Camaquã, onde os pais eram professores.
Uma curiosidade é o piso inclinado do salão devido ao cinema. Em bailes, os dançarinos precisavam resistência para descer e subir.
Mineração
Minas do Camaquã fervilhou depois da descoberta de cobre em 1865. O fazendeiro João Dias encontrou em suas terras uma pedra esverdeada, que entregou ao imperador Dom Pedro II, que estava de passagem por Caçapava do Sul. Depois de análise na Inglaterra, a mineração de cobre começou em 1870. A exploração foi feita por ingleses, seguidos de alemães e belgas. Com a queda no preço internacional do minério, as extrações foram suspensas por volta de 1910.
A Segunda Guerra Mundial provocou a retomada da atividade na localidade que fica a 68 quilômetros do centro de Caçapava do Sul. Em 1942, foi criada a Companhia Brasileira do Cobre, uma sociedade formada pelo governo do Estado e o multimilionário Baby Pignatari, convidado para o negócio pelo presidente Getúlio Vargas.
Neto do conde Francesco Matarazzo, imigrante italiano que construiu um império econômico no Brasil, Pignatari ficou com o controle total da operação de 1957 a 1974, quando devolveu a CBC ao governo federal. No final da décadas de 1970, Minas do Camaquã teve a maior população, somando quase cinco mil moradores. Grupo de funcionários assumiu a empresa em 1989.
Em 1996, devido ao esgotamento das reservas pesquisadas, terminou a mineração e começou a debandada. Na região, moram hoje aproximadamente 500 pessoas. O turismo é uma aposta em função das belezas naturais e da curiosa história.
A restauração do Cine Rodeio para abertura de um museu será um passo importante para atração de turistas. O secretário de Cultura e Turismo de Caçapava do Sul, Stener Camargo, reforça que a obra é uma obrigação para manter o selo de geoparque dado pela Unesco para a região.
Quando fechou em 2013, o Cine Rodeio já não exibia mais filmes. O espaço era destinado às confraternizações na comunidade. O prédio pertence à prefeitura de Caçapava do Sul.