É curioso como uma família de Porto Alegre adotou o sobrenome Só. O economista Sergio Só de Castro me contou que existem duas versões para a origem. Em uma, o português Manoel da Silva tinha um homônimo na cidade. Como gerava confusão, pediu para familiares colocarem nas correspondências a palavra "só" depois do Silva. Em outra, na hora do registro, teriam perguntado se era só Silva. De uma resposta mal compreendida, teria surgido o Silva Só.
O fato é que o "Só" foi incorporado a este ramo da família Silva. O sobrenome faz parte da história da cidade, porque a família foi dona de uma grande indústria naval, que ocupava o local do novo Pontal Shopping.
A Só & Cia foi criada por José Manoel da Silva Só, filho de Manoel. Ele já era associado de outro português, Antônio Henriques da Fonseca, que abriu em 1850 uma empresa no Beco da Ópera, atual Rua Uruguai. A firma fundia sinos de igrejas, tachos de cobre, pregos e rebites de embarcações. Na Guerra do Paraguai, ajudou nos reparos de barcos do Império do Brasil, além de produzir ferraduras e estribos.
Quando o fundador se afastou em 1870, José Manoel da Silva Só alterou o nome da empresa para Só & Cia. Os filhos dele, Júlio Martinho e José Álvaro, entraram na firma, que passou a ser chamada Só & Filhos em 1900. Na Exposição Estadual de 1901, exibiram o primeiro motor a querosene fabricado no Brasil. Ganharam a medalha de ouro.
Depois de muito tempo funcionando na Rua Voluntários da Pátria, já produzindo navios, o estaleiro foi transferido em 1949 para o local conhecido como Ponta do Melo, onde ficou até a falência. A área no bairro Cristal foi aterrada para receber os prédios, como lembra Luiz Carlos Sarmento Só, outro descendente de Manoel.
No livro Indústria de Ponta - Uma História da Industrialização do Rio Grande do Sul, Eduardo Bueno e Paula Taitelbaum contam que o Estaleiro Só fabricou mais de 170 embarcações, entre navios de grande porte, ferry-boats, pesqueiros, rebocadores e outros. Na década de 1970, chegou a empregar mais de três mil pessoas. A família vendeu para um estaleiro do Rio de Janeiro o controle em 1972. A década seguinte, já como sociedade anônima, foi muito difícil, sem incentivos para a indústria naval. O estaleiro tentou diversificar os negócios, apostando no setor metalmecânico.
O gigante da indústria não resistiu à década de 1990. Com salários atrasados, o Estaleiro Só teve falência decretada em 1995. Por muito tempo, se discutiu o melhor destino para aquela região da cidade. O terreno do antigo estaleiro recebe o Pontal Shopping, um complexo comercial, de lazer, com hotel e HUB de saúde.
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