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Eu me emocionei de verdade ao ver a plateia vibrar, tal como numa partida de futebol, quando o clipe de Ainda Estou Aqui foi exibido no telão do auditório do Academy Musem of Motion Pictures, em Los Angeles, na última quinta-feira (27).
Era a cena da chegada abrupta dos agentes do Estado brasileiro na casa da família Paiva, quando Eunice e as crianças encontram Rubens pela última vez. Cinco filhos ficariam órfãos de pai dali em diante. Mas ninguém fazia ideia do que estava por acontecer.
Nessa sequência, em um dos momentos mais emocionantes da obra de Walter Salles, Nalu (Bárbara Luz) chega da praia com uma amiga e, em sua inocência infantojuvenil, não percebe a tensão do ambiente — agora controlado por repressores. Em tempo: é possível observar a oposição entre o som da vida lá fora (praia, sol, Rio de Janeiro) e o silêncio imposto pela ditadura. Entre a luz que invade a sala com frescor da vida na rua e a escuridão que passa a tomar conta das peças, quando as cortinas são rapidamente fechadas.
Nalu, então, sobe ao quarto para buscar uma camisa do pai e, ao percebê-lo vestindo-se formalmente em pleno feriado de sol, questiona para onde ele iria “todo lindo desse jeito”.
Com ternura, Rubens (Selton Mello) sorri e responde à filha, enquanto ela ajeita o colarinho e sua gravata: “Eu já volto, filha”. A pequena não sabia, mas o público compreende a sutileza e a dor daquele encontro, com um abraço que não aconteceria nunca mais.
— Esse filme tocou profundamente meu coração — disse, com a voz embargada, Jennifer Fox, produtora reconhecida na indústria do cinema e já indicada ao Oscar de melhor filme, ao final da exibição.
A Zero Hora, o produtor Rodrigo Teixeira, de Ainda Estou Aqui, contou ter testemunhado os olhos marejados de Jennifer, por estar ao lado dela, no palco do auditório do Academy Museu.
E é sobre essa emoção que eu queria falar. De tudo que se ouve por aqui, na cidade onde o Oscar acontece, os depoimentos — de americanos, colombianos, britânicos, enfim, gente de toda a parte — apontam sempre na direção de uma história com poder de emocionar.
É um filme lindo”, “É a história de uma família”, “É como se estivéssemos naquela casa, junto com eles
Há um poder especial, impresso em cada uma das performances do elenco e das sutilezas da direção de Walter, que é tocar o coração de quem o assiste. E se há algo que o brasileiro sabe fazer, aliás, é ser coração.
Na calçada da fama, deparei-me nesses últimos dias com brasileiros emocionados, alguns vestidos com camisetas que estampavam o rosto de Fernanda Torres, outros com a certeza de que alguma das três estatuetas, ao menos uma!, levaremos para casa.
É difícil dizer, mas estamos nesse lugar: de orgulho, de pertencimento, de amor pelo cinema produzido no nosso país.
Por isso, não há como discordar da frase da atriz Fernanda Torres, meses antes de receber sua indicação ao Oscar, quando perguntada sobre a premiação e a indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro. Disse ela:
— Quando um ator brasileiro, falando português, é nomeado, ele já ganhou, pode estourar champanhe.
É isso. Nós ganhamos. Mesmo antes do resultado final. E sabe de uma coisa? O Brasil merece. Nós merecemos. Nós vamos sorrir.