Querido filho,
Te escrevo com a ansiedade de quem está prestes a celebrar, daqui a uma semana, a chegada dos teus dois anos. Parece que foi ontem que as dores no ventre se acentuaram para algo insuportável, no ritmo frenético que anunciava que tu estavas por vir. Lembro-me de dizer ao teu pai que achava melhor irmos ao hospital. Era madrugada e eu não sabia que, ali, a revolução estava prestes a começar.
Ô, filho! Quanta coisa descobrimos juntos. Lembro dos teus primeiros passos
Vinte e quatro meses se passaram desde então. Dá pra acreditar, Gabriel? Teus olhinhos apertados, os pezinhos minúsculos e uma quantidade de cabelos extraordinária, de fazer inveja a qualquer rockstar. Teus vovôs e vovós vieram te visitar na maternidade, assim como tua prima Eva, que tinha apenas três meses e se tornaria tua companheira de aventuras com o passar dos dias.
Ô, filho! Quanta coisa nós descobrimos juntos. Os dias foram longos (e também as madrugadas!), mas os anos passam voando. Eu me lembro de quando teus dentinhos nasceram, dos primeiros banhos no chuveiro, no colo do papai, não esqueço jamais as fraldas que sempre vazavam (socorro, cocô explosivo!) e a famosa hora da bruxa.
Eu me lembro também dos teus primeiros passos, das tuas perninhas cambaleantes empurrando um carrinho que foi presente do tio Potter e do tio David. Fecho os olhos e consigo sentir o cheiro dos teus cabelos enquanto te colocava pra dormir. Lembro-me de quando baixamos o colchão do berço pela última vez e quando foi preciso transformá-lo em caminha, porque tu estavas um menino crescido. Lembro também quando tu disseste “goool” pela primeira vez e me divirto com teu novo bordão: “mãe-mamãe-manhêee”.
Por fim, filho, queria te contar o que me motivou a escrever esse texto. Foi a partida precoce do advogado Márcio Carpena e do piloto Gustavo Medeiros, na última sexta-feira, que noticiamos na Rádio Gaúcha. Foi impossível não pensar em ti, filho, quando soube que Márcio havia deixado três filhos e Gustavo, dois – um ainda na barriga da mãe. A vida é dessas coisas que a gente não explica. Que sorrateiramente interrompe uma jornada. Que sem aviso (e sem pedir licença) tira de nós aqueles que mais amamos.
Sabe, filho, a mamãe não tem todas as respostas. Mas sei, antes de tudo, que a vida é efêmera. Por isso, a gente precisa se lembrar, todos dias, daqueles que amamos. Obrigada por esses dois anos. Te amo, mamãe.