Dia desses, por ocasião do fatídico bolo envenenado de Torres, entrevistamos a criminóloga Ilana Casoy na Rádio Gaúcha. Ilana, escolhida a dedo pelo nosso produtor Yuri Falcão, é uma das maiores especialistas em serial killers no Brasil. Basicamente, ela se concentra em estudar o perfil de criminosos da pior espécie, como o impiedoso Pedrinho Matador, que chegou a ser réu por 71 homicídios, mas confessou ter matado “mais de cem”.
Sobre a entrevista, quero me concentrar em uma pergunta feita pelo astuto Luciano Potter: há algo em comum entre matadores em série?
Se o cuidado com a infância pode influenciar para a prevenção de crimes bárbaros, por que não nos dedicamos com afinco a coibir violência e abuso infantil?
Ilana citou alguns comportamentos, que costumam aparecer na infância, mas não são determinantes. Quer dizer, não é porque alguém tem esse traço, enquanto criança, que se tornará necessariamente um serial killer. Entre eles: piromania (colocar fogo nas coisas) e sadismo precoce (torturar animais, por exemplo). Mas faço questão de repetir: isso não significa que, se uma criança tiver alguma dessas condutas, será uma assassina no futuro.
Para além desses dois pontos, há uma situação que à pesquisadora se revelou muito presente e que está ao alcance humano ser modificada. Ilana chamou de “infância em vermelho”, ou seja, uma infância permeada por violência, maus-tratos e/ou abusos sexuais. Também aqui é preciso dizer que nem sempre um menino violentado se tornará um adulto criminoso, mas é importante perceber que o abuso infantil é mencionado com frequência como parte do passado por assassinos em série.
Diante dessa constatação, emerge um questionamento lógico. Se o cuidado com a infância pode influenciar para a prevenção de crimes bárbaros, por que não nos dedicamos com afinco a coibir violência e abuso infantil? Por que ainda fechamos os olhos frente à realidade de quase 200 crianças e adolescentes espancados por dia no Brasil? Ou para o dado que mostra uma menina abusada sexualmente a cada quatro horas? Aliás, na maioria dos casos (70%), por parentes próximos, como pai e padrasto.
Somos uma sociedade historicamente permissiva com violências contra crianças. Com lares onde chinelos e cintos são utilizados para educar. Com adultos que desdenham do afeto e que acreditam que dar colo deixa o bebê mimado. Que ensinam meninos e meninas a engolir o choro. Lamento informar, mas não está dando certo.
Ou mudamos esta realidade, ou seguiremos fadados a tentar desvendar, anos depois, por que a violência não arrefece.