Em seu novo episódio, o podcast "Descomplica, Kelly" recebe o o economista e ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul Aod Cunha. A análise abrange um tema que conversa com o cotidiano dos brasileiros: a inflação.
A prévia da inflação avançou 0,59% em maio, maior alta para o mês desde 2016. No acumulado dos últimos 12 meses, chega a 12,2%, quatro vezes mais do que a meta estabelecida.
Em ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro já foi alertado sobre o impacto da alta nos preços — que não é exclusivo do Brasil, registre-se — e demonstra preocupação com o assunto, inclusive cobrando medidas da Petrobras e do Ministério de Minas e Energias quanto ao avanço no preço dos combustíveis.
Na segunda-feira (23), houve mais uma troca no comando da Petrobras, já que o preço dos combustíveis está impactando a inflação. Foi a terceira troca realizada durante o governo de Bolsonaro.
Alta dos combustíveis
Em outubro de 2021, um importante personagem do cenário político nacional contou à coluna que aliados estavam fazendo chegar ao presidente a mensagem de que a alta dos combustíveis (gasolina, diesel) e do gás de cozinha teria um impacto significativo em seu projeto de reeleição. E que algo precisava ser feito.
"Tem de fazer algo. O real desgaste do governo está aí", avisou um interlocutor.
De lá pra cá, a coisa só piorou. Os combustíveis voltaram a subir e, em março, caiu o então presidente da Petrobras (Silva e Luna) e, em maio, o então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Nesta segunda, mais uma troca no comando da estatal. O motivo: o presidente quer se descolar da imagem de que as altas estão sob responsabilidade de seu governo, e jogar a "bomba" no colo da Petrobras.
De fato, é preciso reconhecer, a inflação não é problema exclusivo do Brasil. Grandes economias mundiais enfrentam esse desafio, como os Estados Unidos, por exemplo. Há reflexo, entre outros aspectos, das medidas emergenciais (necessárias, reconheça-se) para auxiliar os mais pobres durante a pandemia. Isso sem falar no impacto da guerra da Ucrânia, com alta no preço do barril de petróleo e também dos fertilizantes.
O desafio, portanto, não é somente para o Brasil. Ocorre que, observam analistas econômicos, o governo poderia ter dado respostas melhores, como por exemplo menos instabilidade política a fim de não afugentar investidores daqui. Como se sabe, o comportamento do presidente e a instabilidade política contribuem para a saída de dólares do país, e isso desvaloriza ainda mais o real frente à moeda americana. O resultado: com dólar em alta, sobem também os combustíveis, a farinha, o pãozinho e por aí vai.
E ainda há tempo de fazer algo?
Este aliado diz que "Bolsonaro demorou a perceber" e que é difícil dizer se, faltando pouco mais de quatro meses para o primeiro turno da eleição, os eventuais movimentos surtirão efeitos. Como observou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o governo seguirá com a tentativa de transformar a Petrobras em "vilã" para o povo brasileiro e, nesta estratégia, Bolsonaro está pressionando o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, a entregar algo em relação ao aumento dos combustíveis.
É importante lembrar que, em tese, a Petrobras tem total liberdade para tomar suas decisões e o governo Bolsonaro prometeu fazer diferente quanto à possibilidade de intervir na política de preços. Contudo, com a eleição batendo à porta, o presidente tem se preocupado cada vez menos em vestir o uniforme de liberal na economia. Na dúvida, melhor apressar a privatização da Eletrobras e, com isso, fazer um agrado também para o lado de lá.