Eu conheci a Cristiana Lobo quando eu tinha 20 e poucos anos. Desembarquei em Brasília para trabalhar como repórter da RBS no agora distante ano de 2011, logo depois do Carnaval. Meu Deus, se foram dez anos!
Eu lembro que era tudo novo e muito desafiador. Chegar em uma cidade nova, morar sozinha pela primeira vez, a distância da família e as ruas que não tinham nome, mas um emaranhado de letras e números que assustam qualquer pessoa que chega.
Pois no meio do caminho, sorte, havia muita gente disposta a ajudar.
E havia um ser humano chamado Jorge Bastos Moreno (saudades!), que me abriu as portas da casa como se minha fosse. Moreno estendeu não um tapete, mas um banquete de boas histórias, jantares deliciosos e amigos pelos quais sinto um amor imenso até hoje. Foi Jorge Bastos quem me aproximou de Andreia Sadi, por exemplo, a repórter mais incrível desse Brasil, e agora também mãe de Pedro e João.
Pois foi na casa do Moreno, em Brasília, que eu conheci ela: a divertidíssima Cristiana Lôbo. Digo divertidíssima não porque ela fosse escrachada. Pelo contrário. A Cris era a elegância em pessoa! Sempre impecável: cabelo, maquiagem, perfume maravilhoso. Uma mulher fina. A gente parava quando a Cristiana Lobo chegava. Nós, jornalistas. Mas as autoridades também. E ela não vinha só: trazia conhecimento, força, análise. Era gigante.
E era absolutamente divertida porque aproveitava da sua experiência nos corredores do Poder para alfinetar quem quer que fosse, caso este precisasse de uma alfinetada.
Certa vez, me lembrou o amigo Marcelo Cosme, a Cristiana telefonou para o Palácio do Planalto, número fixo mesmo. Atendeu a recepcionista:
— Alô.
— Alô, eu queria falar com a presidente.
— Mas quem tá falando?
— É a Cristiana. Cristiana Lôbo.
— E a senhora marcou horário? Ela sabe?
— Não, queria ver se ela pode falar comigo.
A atendente ficou assustada, ligou imediatamente para a ministra da Comunicação, dizendo que a Cristiana Lôbo queria falar com a presidente. A ministra telefonou pra um, pra outro, todo mundo queria saber por que afinal um jornalista havia ligado pro telefone fixo do Palácio e feito pedido para falar com a presidente e chefe da Nação! Coisas de Cristiana.
Para quem não é familiarizado com cobertura política, explico: não é assim simplesmente levantar o telefone e falar com presidente. Passa-se por um assessor, dois, três, há um pedido, meses de espera, mais insistência, agenda-se uma entrevista.
Mas ela contou depois, aos risos, que estava num plantão, queria apurar uma informação e pensou: vai que a presidente atende. Essa era a Cristiana!
E você pode perguntar pra quem quer que seja, todos concordarão. Cristiana distribuía sua elegância a todos de forma muito generosa, mesmo com aqueles que recém haviam chegado, como eu. Abraçava, sorria com os olhinhos apertados e sempre dava um jeito de fazer a gente rir também.
Obrigada, Cris, por ter aberto tantos caminhos para nós jornalistas, em especial as mulheres, na cobertura política. Que Moreno te receba aí no céu com um jantar maravilhoso, a altura do teu brilho e da tua generosidade.