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— Vontade de dizer um palavrão — resumiu o torcedor Marcelo Medeiros na manhã desta quarta-feira (6), despindo-se da condição de presidente do Sport Club Internacional quando perguntado sobre qual o sentimento vivido por um colorado após acompanhar mais de uma hora de entrevista coletiva do Ministério Público sobre os mais de R$ 13 milhões desviados por ex-dirigentes do clube na gestão Vitorio Piffero, conforme a denúncia que será entregue à Justiça.
Marcelo não é só presidente. É um torcedor que experimentou a consciência sobre a formação política do Inter dentro de casa, desde pequeno. É filho de Alzira Feijó Medeiros e Gilberto Medeiros, ex-presidente do clube, e neto de Afonso Paulo Feijó, mandatário colorado em 30 de setembro de 1945, dia em que o Inter ganhou o Gre-Nal de número 89. Era o auge do Rolo Compressor, time que conquistou oito campeonatos em nove anos, o primeiro hexacampeão gaúcho da história.
Para além da relação familiar, Marcelo assumiu o clube em seu pior momento na história: rebaixado, com déficit milionário e prestes a iniciar uma batalha para reconduzi-lo à primeira divisão do futebol brasileiro. O sentimento não poderia ser outro. Um palavrão. Que foi pensado, mas não dito por ele na entrevista concedida ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
— Pelo amor de Deus. Teve gente que dizia: 'sempre foi assim, não vai dar nada' (quando as investigações tiveram início). Pelo amor de Deus — desabafou.
O tom forte da entrevista refletia a indignação que não é exclusividade de Marcelo. Milhares de colorados expressaram, nas redes e em comentários publicados aqui em GaúchaZH, o descontentamento com a sequência de crimes apontados pelos promotores e que foram praticados por dirigentes que deveriam, em tese, zelar pelo Internacional. Não foi assim. O MP concluiu que desvios de recursos ocorreram em diferentes setores do clube — desde obras fictícias para justificar adiantamentos na boca do caixa até comissões supostamente ilícitas em transações de jogadores. E disse mais: eles não poderiam ter ocorrido sem o conhecimento e consentimento do presidente à época, Vitorio Piffero.
— A gente que assumiu o clube com a missão de recolocá-lo em seu devido lugar já sentia que as coisas não foram por acaso. (...) O rebaixamento do Inter não foi por acaso. É o epílogo de uma gestão que apresentou este tipo de conduta como característica — completou, aqui retomando o tom enquanto presidente do clube, cargo para o qual foi reeleito no fim do ano passado com 92% dos votos.
A entrevista de Medeiros nesta manhã expressa a revolta de boa parte dos colorados que viram o clube do coração ser deteriorado não só financeiramente, mas também dentro de campo com a queda para a segunda divisão. Os reflexos da conduta de dirigentes que saquearam os cofres do clube não puderam ser evitados e agora é a gestão de Marcelo que tem a responsabilidade de trilhar novamente um caminho da ética e da seriedade — o que aliás, está fazendo. Os resultados dentro de campo serão consequência, esperamos. Mas os 200 atos de estelionato, a formação de uma organização criminosa e lavagem de dinheiro não podem ficar impunes.