Eu me lembro como se fosse hoje daqueles deliciosos três meses em que passávamos o verão na praia. Era coisa daquele tempo, os anos 90, em que as férias escolares começavam em dezembro e se diluíam pouco a pouco, até o início de março. Aproveitávamos intensamente, como se não houvesse amanhã.
Tinha brincar na rua até tarde, milho verde com sal e manteiga, além do refrescante picolé de limão (com a chance de um palito premiado!). Era um privilégio, eu sei. É que minha mãe trabalhava na cantina da escola, então nossos meses de praia - meu e do meu irmão - eram os dela também. Hoje, vivendo a maternidade com um menino prestes a completar dois anos, vejo como impossível um cenário de três meses de pausa (e paraíso).
Talvez por guardar essa memória saborosa das férias de verão tenha sido tão especial levar meu filho Gabriel para ver o mar. Havíamos tentado a experiência no ano anterior, verão de 2024, mas como nosso filhote ainda não caminhava não pudemos ver os pezinhos confiantes na direção das ondas. Dessa vez, foi diferente. Rumamos de mãos dadas para aquela imensidão azul. Verdade seja dita: não passamos da primeira ondinha, mas que coisa maravilhosa foram aqueles momentos!
De início, medo do desconhecido. Um movimento rápido de encolhida das perninhas minúsculas, tal como uma ginasta que tenta, pendurada na barra, não tocar o chão. Aos poucos, os olhinhos ficaram encantados e pude observar a covinha do sorriso despontar diante da magia impressa naquela água vibrante e cheia de espuma. A cada onda, um pulo e uma gargalhada. “Pula mamãe”, e de novo abria-se o sorriso cheio de dentes.
Por um instante, o mundo éramos nós.
Lembrei-me do meu amigo Marcos Piangers – que você conhece como Papai é Pop – dizendo: “Aproveita! No meu caso, foram apenas 13 verões”. O cálculo do Piangers é simples. Ele leva em consideração o dia em que a filha mais velha, Anita, lhe disse que não gostava mais de praia e preferiu ficar na cidade com as amigas. “Foi abrupto. Em um verão dançávamos no mar, apostávamos corrida, desenhávamos na areia. No outro, estava sem ela”, narrou.
Primeiros passos
Eu parei para pensar sobre o que disse o Piangers. O número é tanto angustiante, quanto verdadeiro. Por quatro anos, você terá consigo um bebê.
Exatamente como descrevi o Gabriel. No colo, dando os primeiros passos, fazendo castelos de areia, descobrindo o mar. Depois, por nove anos, serão crianças. Farão todo tipo de estripulia, aprenderão a surfar, crescerão mais e mais. Dali em diante, chegaremos à adolescência e, bem, talvez faça algum sentido mesmo ficar perto dos amigos, fazer escolhas próprias e fortalecer uma identidade única, particular.
O que importa
Por isso, nunca é demais lembrar e por maior clichê que seja, de aproveitar as pequenas alegrias, por vezes escondidas nos momentos mais singelos. No fazer um castelo de areia, em buscar água do mar para encher a piscininha embaixo do guarda-sol. Os dias são longos, mas os anos passam voando. Focar no perrengue de organizar a “sacola” de praia (boné, fralda, protetor solar, socorro!) talvez nos afaste da sensação maravilhosa que é ver um filho feliz.
Preste atenção naquele sorriso inocente, na felicidade genuína ao ver a onda chegar. Pule. Dance. Saboreie o milho, o picolé e a diversão. Feliz verão!