Minhas férias começaram de um jeito inesperado no início de dezembro: com o pai e a mãe internados. Os dois. Juntos. Com pneumonia.
Ele deu baixa primeiro. O raio X mostrou ambos os pulmões comprometidos. Ouvi dos médicos Morgana Schwingel Machado e Eduardo Chaida Sonda, do Hospital Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul, onde vive minha família, uma projeção alarmante.
Se meu pai tivesse esperado mais algumas horas para procurar a emergência, poderia ter desenvolvido uma sepse (infecção generalizada). Estava com os sinais vitais alterados. Teria sido encaminhado às pressas à UTI, entubado, sedado, e sabe-se lá que fim teria esta história.
A mãe, eu levei pelo braço ao atendimento de urgência, frágil e tremendo com um febrão de 39,1°C. Resultado da tomografia: pulmão esquerdo tomado. Ela reclamava de pontadas nas costas. É uma mulher forte e que se orgulha de não sentir dor. Sentiu.
Eu não tive febre, mas também tremi.
É nessas horas que a gente se dá conta, primeiro, que nossos pais não são eternos e nem super heróis — e que chegará o momento em que os papéis se inverterão. Eles nos cuidaram quando não sabíamos nem sequer amarrar os cadarços. Agora é a nossa vez.
Eles já passaram dos 70 anos e são pessoas ativas e conectadas, muito diferentes dos setentões de outrora. Minha mãe em nada lembra a mãe dela, minha avó, quando tinha a mesma idade. Os tempos mudaram, mas isso não significa que sejamos eternos. Estamos vivendo mais graças aos avanços da medicina, mas ainda (ainda!) não descobrimos a fórmula da vida eterna.
Naquele alvorecer de dezembro, percebi o quanto a vida é fugaz. Eu sei, estou resvalando no clichê, mas foi o que senti. Talvez você também já tenha passado por isso.
De uma hora para a outra, tudo pode desabar, e você sente o peso do mundo nas costas, como uma bigorna enferrujada e densa. Eu não estava preparada para perder meus pais. Não estou. Quem está?
O pior já passou. Eles receberam alta. O pneumologista Rui Dorneles garantiu que estão bem outra vez e tudo voltou ao “normal”. Mas o que é a tal normalidade?
Há pessoas que passam a vida entediadas e esperando sempre o dia de amanhã, porque o "hoje" não é onde gostariam de estar. O hoje, para muitos de nós, é a frustração. Amanhã será melhor. Amanhã iremos concretizar aqueles planos tão desejados (e adiados). Amanhã, sim, seremos felizes.
Até ser tarde demais.
Meu conselho, se é que posso aconselhar alguém: vivamos o hoje. A vida é agora, neste exato segundo.
A propósito
“Tome cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais” — a frase não é minha, é atribuída ao filósofo grego Sócrates, que viveu há mais de 2 mil anos e é considerado um dos fundadores da filosofia ocidental.
Se é dele mesmo, me perdoe, eu não sei. Mas que faz pensar, faz.
Desacelerar é preciso. O curioso é que às vezes demora.
Uma frase
"Existirmos a que será que se destina?"
Caetano Veloso
Da canção Cajuína, escrita em 1979 pelo compositor baiano. O luto pela morte do amigo Torquato Neto virou poesia, que se tornou uma das músicas mais belas do gênio.