Há três décadas, o psicólogo Jaime Machado vestiu-se pela primeira vez de Carlitos. Desde então, o célebre personagem de Charles Chaplin não saiu mais dele — e agora está ajudando pessoas atingidas pela catástrofe climática no Rio Grande do Sul.
Com o chapéu-coco a tiracolo, o famoso bigodinho, a bengala e as roupas características do andarilho imortalizado no cinema, Machado faz parte do exército de voluntários que tem levado ânimo e esperança a quem perdeu tudo. É um sopro de carinho e cuidado em meio a uma enxurrada de histórias tristes.
No Dia das Mães, ele participou de uma ação coletiva em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana. Organizada pela estudante de psicologia Luísa Castoldi, a atividade ocorreu em um abrigo instalado na Escola de Ensino Fundamental Miguel Couto, no bairro Berto Círio, um dos mais atingidos no município.
Durante todo o dia, Machado não disse uma palavra: personificou Carlitos em carne e osso, usando apenas gestos e expressões faciais para se comunicar.
— Ele encantou todo mundo, não só as crianças. Transformou o ambiente — conta Luísa, que também é idealizadora da Feira do Bem, iniciativa beneficente que vem sendo realizada no bairro desde 2021.
Fazendo mímica e comédia, com uma dose reforçada de empatia, Machado ensinou a garotada a criar flores de papel. Simples assim.
— Pensei: o que eles vão dar para as mães, se perderam tudo? Lembrei desse truque, que tenho sempre na manga. Levei guardanapos de casa e deu certo. O legal do Carlitos é que ele fala uma linguagem que todos entendem — diz Machado, que é natural de Joinville (SC) e adotou o Rio Grande do Sul como lar há nove anos (seis deles em Nova Santa Rita).
Uma nova ação está sendo planejada para o próximo fim de semana, no Parque de Eventos Olmiro Brandão, no centro do município. Dessa vez, os alvos serão voluntários da cidade, que também precisam de atenção e apoio.
A força dessas pessoas, de gente como Machado, Luísa e tantos outros anônimos, está provando na prática que, mesmo com pouco, a gente pode muito. Chaplin que o diga.