Queria muito saber o que pensam esses saqueadores do bem público, que destruíram o país e, com a mesma cara dura, mantêm o discurso oco na essência e afrontoso no deboche de propor medidas e reformas em prol de uma sociedade mais igualitária e mais justa.
Será que esses predadores que se adonaram do poder têm a exata noção do efeito dessa dilapidação do patrimônio nacional, que produziu a quebra de milhares de empresas que, no rastro da tragédia, tiveram que demitir porque faliram ou encolheram tanto, que não havia mais trabalho para todos os seus empregados?
O que é certo é que não há dano social maior, nem mais aviltante, do que o desemprego. Acompanhei o relato de um ex-grande empresário que teve a sua firma negociando perda de 70% do capital durante meses e, quando os termos da concordata foram definidos, não conseguia voltar para o trabalho e contabilizar os funcionários que aprendera a querer como membros de uma grande família e que agora estavam empenhados em receber a esmola do seguro da sobrevivência temporária. Será que, quando deita à noite, essa corja pensa naqueles que vão levantar muito cedo no dia seguinte para tentar uma improvável vaga de trabalho e, não conseguindo, voltarão para casa no horário de sempre porque ainda não tiveram coragem de contar para a família que foram descartados?
E, no sono, que imagino agitado, porque, mesmo nos crápulas, a consciência não se deixa amordaçar, será que eles sonham com algum tipo de castigo e acordam sobressaltados e demoram para separar sonho e realidade e só ficam aliviados quando percebem que, por enquanto, não tem nenhum despertador japonês tocando a campainha?
E, mais tarde, reunidos no comitê do partido para discutir com seus asseclas as estratégias para a sonhada reeleição, em algum momento, será que eles sentem a fisgada do remorso, esse desconforto que seca a boca e aumenta a acidez no estômago? Pensei nisso ouvindo o relato comovido da jovem médica que tentava animar um chefe de família, dizendo-lhe que conseguira agendar o exame das coronárias para o dia seguinte e,então,ele poderia ir para casa.A confissão que se seguiu devia constar no horário eleitoral gratuito para que os canalhas tivessem uma amostra do mal que causaram:“O problema,doutora,é que eu tenho 57 anos e muita vergonha de ir pra casa e encarar uma família amorosa que eu não consigo mais sustentar.Ganhava R$ 4,5 mil e tudo ia bem,e então fui demitido e agora recebo menos de R$ 1,5 mil”.
VAMOS DESCARREGAR NAS URNAS A NOSSA REVOLTA, PORQUE É SÓ NAS URNAS QUE AS REPÚBLICAS VERDADEIRAS TROCAM DE PODER
A doutora se deu conta de que a receita que prescrevera se aproximava desse valor e quis sabe como ele faria pra comprar os remédios, e ele resumiu: “Lá em casa, estamos decidindo a cada mês o que não vamos pagar: a água ou a luz. Gostei da senhora e não quero que fique chateada comigo, mas eu não sei se vou conseguir festejar caso o exame de amanhã mostre que o meu caso tem solução!”. Vontade de chorar. Mas, antes, vamos descarregar nas urnas a nossa revolta, porque é só nas urnas que as repúblicas verdadeiras trocam de poder. De qualquer maneira, eles saberão por quem choramos.