Uma das descobertas mais gratificantes de se manter uma coluna semanal no jornal é a cumplicidade de parte do público leitor por se identificar com uma determinada linha editorial.
Estabelecido esse vínculo afetivo, com alguma frequência, recebemos textos que relatam histórias de vida que envolvem sentimentos comuns. Vejo isso como a confirmação de que as pessoas, na imensa maioria, são boas, e tendo descoberto o quanto é bom fazer o bem, sentem uma necessidade compulsória de compartilhar.
Algumas dessas mensagens chegam em momentos de carência afetiva nossa e sentimos exatamente o que alguns leitores, agradecidos, escrevem: “Obrigado por ter escrito o que eu precisava ouvir, dando-me a impressão, não importa se falsa, de que você escreveu para mim.”
Foi assim, com esse sentimento, que li a história enviada por um leitor fiel e assumido, e me comovi porque ela reforça minha crença antiga de que, como declarou o bilionário John Paul DeJoria, em recente entrevista à Veja, “fazer o bem aos outros dá um barato danado”.
Uma jovem, que vou chamar de Vera Lúcia, trabalha numa elegante loja de roupas femininas, onde entrou uma mulher alta e obesa. Circulou por ali e, sem perguntar nada, iniciou a busca de um vestido que lhe servisse. Seguiu revisando estante após estante sem encontrar e sem desistir. Para Vera Lúcia, foi torturante vê-la no esforço inútil, porque sabia que não havia nada compatível, mas achou que seria grosseiro interrompê-la para anunciar a frustração definitiva.
Esperou até o último instante sem saber o que dizer, quando a senhora, com o olhar resignado, assumiu: “Vocês não têm nada GG, não é mesmo?”.
E, então, a Vera Lúcia se socorreu de uma sensibilidade tanta, que salvou o futuro dela como vendedora, a autoestima da freguesa, certamente vítima de discriminações constantes, e o meu fim de semana, quando recebi esta linda história.
Ela abriu os braços e disse: “Como que não? Olha só o tamanho deste abraço!”.
A freguesa só conseguiu parar de chorar para agradecer: “Há muito tempo ninguém me abraçava assim!”.
Em um mundo marcado pela solidão, um abraço GG pode ser a melhor terapia.