Não seria nenhum exagero dizer que a política é um exercício de tolerância com a prática civilizada da hipocrisia. E com direito à agudização em situações assumidamente decisivas e dramáticas, quando então todos os limites do ridículo são transpostos com uma naturalidade chocante. Foi o que mais se viu no recente episódio do impeachment, de ambos os lados, com uma distribuição bilateral e simétrica de cinismo deslavado. Do lado do governo, a declaração de que a oposição só pensa em acabar com os programas sociais como se esses programas já não estivessem fazendo água porque, em busca da reeleição, foram consumidas todas as reservas do tesouro, mais os estoques dos bancos públicos e dos fundos de pensão, resultando nas tais pedaladas que envolveram números astronômicos. Como o mau gestor é incapaz de prever arrecadação para sustentá-los, vários programas, com benefícios louváveis como ProUni, Pronatec, Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família, começaram a ter seus proventos ameaçados ou interrompidos. Se os petistas acreditam mesmo que destroçar a sétima economia do mundo não envolve crime de responsabilidade, dever-se-ia dar a eles o direito de concluírem o mandato, com a certeza de que a legião de desempregados que cresce exponencialmente se encarregaria de escorraçá-los antes do final desse desgoverno.
Palavra de médico
Quando misericórdia é a solução
Colunista escreve em todas as edições do caderno Vida
J. J. Camargo
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