As Forças Armadas viraram o Bombril do governo Bolsonaro. O faz-tudo que tem 1001 utilidades. A mais recente proposta do presidente para os militares é que 7 mil deles, reservistas, sejam contratados para agilizar o atendimento em agências do INSS. Como se sabe, mais de 2 milhões de pedidos de aposentadorias e pensões estão atrasados, em decorrência da corrida de idosos aos guichês da Previdência Social, nestes primeiros meses pós-reformas. Em vez de ficar em casa entediados, terão oportunidade de ganhar um extra.
As Forças Armadas já são usadas em muitas outras empreitadas que nada têm a ver com sua função primordial, a defesa da nação contra inimigos externos. No Nordeste, por exemplo, batalhões de engenharia do Exército assumiram a construção de trechos mais críticos da transposição do São Francisco, obra infindável que pretende canalizar trechos do gigantesco rio para regiões áridas. Não há notícia de que tenham se envolvido em corrupção patrocinada por empreiteiras, algo endêmico no Brasil.
Estradas são outra missão dada ao Exército - não só agora, mas ao longo da história. É o caso da duplicação da BR-116, no trecho entre Guaíba e Pelotas, no sul do Estado. Militares do Exército e da Aeronáutica também foram deslocados para o combate a incêndios na Amazônia. E da Marinha, para limpeza de praias atingidas por derrame de petróleo no Nordeste.
A estratégia faz sentido. Militar por formação, Bolsonaro prestigia seus colegas de farda e, de quebra, se cerca de uma das instituições mais prestigiadas do país no quesito incorruptibilidade. Pode render votos. Provável, também, que ele confie na obediência dos militares e acredite que são menos volúveis e interesseiros que civis.
Os militares também colhem benefícios nessa relação, não muitos. Um soldado recebe entre R$ 19 e R$ 30 por dia para operar máquina numa estrada, além do soldo. Para um governo, é extremamente vantajoso, me avisa um general.
— Militar não recebe hora-extra, adicional noturno, adicional por fim de semana e nem fundo de garantia. A única vantagem para o recruta é aprender um ofício que talvez lhe sirva na vida civil — pondera o oficial.
A economia para os governantes é tanta que a Secretaria da Previdência confirma que recorrer a veteranos das Forças Armadas sairá muito mais barato do que contratar empresas terceirizadas para atuar nos postos do INSS.
Mas Bolsonaro tratou de prestigiar os fardados de outra forma. Mais de 2 mil, da ativa ou reserva, ocupam cargos na sua administração _ aí, sim, muitos com direito a função gratificada ou cargo em comissão. É, com certeza, o maior contingente desde o regime militar. Mesmo com rusgas pontuais entre o presidente e os uniformizados, especialmente pelo radicalismo presidencial em pontos como política externa e pelo conservadorismo nos costumes, é uma relação que tende a perdurar.