As Forças Armadas emplacaram dois ex-integrantes como Presidente e Vice-Presidente do Brasil, feito sem precedentes na história moderna. Nem por isso elas estão imunes aos cortes de orçamento, conhecidos de forma eufemística, em economês, por "contingenciamentos". Pelo contrário, o ano é amargo. A área econômica impôs em maio uma poda de 44% no orçamento discricionário do Ministério da Defesa (despesas não obrigatórias). Com isso, sumiram de vista R$ 5,8 bilhões dos R$ 13,1 bilhões orçados para este ano, neste campo. É menos da metade do que foi orçado em alguns anos anteriores, por exemplo.
A Defesa é a segunda área mais afetada por cortes neste governo, atrás apenas da Educação.
O corte orçamentário pode forçar as Forças Armadas a uma medida drástica. Os 80 mil recrutas que começaram o ano servindo à Pátria deveriam concluir seu treinamento ao final de novembro. Há perspectiva, porém, que 25 mil desses jovens com 18 anos sejam dispensados em outubro. Teriam seu adestramento abreviado, algo que nenhum oficial graduado considera plausível. Mas ordens são ordens e serão cumpridas, mesmo que a contragosto.
— Não está confirmado, mas a antecipação em um mês da dispensa da 1a Turma de Recrutas do Serviço Militar Obrigatório, que normalmente ocorre no final de novembro, pode ser necessária caso não haja o "descontingenciamento" de parte do Orçamento da Defesa (Exército) — confirma um oficial graduado do Exército.
Por ora, no Comando Militar do Sul, não há decisão tomada
Algo que já se tornou comum nos quartéis é o meio expediente. E o comando do Exército determinou suspensão dos serviços nas segundas-feiras, por medida de economia.
O Exército será o mais afetado pela dispensa dos recrutas, se isso ocorrer, mas não só ele.
Na Marinha, foi suspensa, por hora, a construção de quatro corvetas que seriam usadas na fiscalização das áreas marítimas de Pré-Sal.
Na Aeronáutica, o número de horas de voo para pilotos, este ano, deve ficar em 95 mil. Já foi de 155 mil (em 2015, no governo Dilma Rousseff) e de 125 mil (ano passado, governo Michel Temer).
Algo que desagrada a muitos militares, aliás, é ter de admitir que no governo Dilma as verbas para Forças Armadas foram mais generosas que no atual. A esperança é que, com a reforma previdenciária, o contingenciamento seja revertido.
— A diferença é que a Dilma não prezava os militares. O presidente atual preza — resume um oficial com posto de comando.