Apressados gostam de vociferar nas redes que sequestrador tem de levar tiro, que criminoso não deve ter chance...um discurso que você conhece. Só que não é simples assim. Em primeiro lugar, se há um tomador de reféns, existem inocentes em risco. Todo cuidado é pouco. Não são raros os episódios, na história, em que o refém morreu - inclusive sem que o bandido tenha sido atingido, em flagrantes casos de erros que levam a tremendas injustiças. Aconteceu no país e aconteceu no RS. Então, cuidado ao recomendar disparos a torto e a direito. Pode um parente seu estar dentro do ônibus cativo.
É por isso que as negociações, em casos que envolvem vários reféns, devem se estender ao máximo. A preferência é que todos saiam com vida. Num caso emblemático registrado nos Anos 90, o então secretário da Segurança Pública José Paulo Bisol negociou pessoalmente com um sequestrador que mantinha cativos passageiros de um lotação em Porto Alegre e conseguiu a rendição dele. Levou horas. Bisol foi muito criticado, mas o fato é que não houve sangue derramado. Poderia ser outra a decisão e os policiais terem atirado no criminoso? Poderia e também estaria justificado. É legítimo e legal atirar em alguém que coloca outras vidas em risco.
Nesta terça-feira (20) no Rio de Janeiro, foi o que aconteceu. O criminoso (ou doente, seja lá o que for) mantinha dezenas de pessoas subjugadas num ônibus. Usava lenço com caveira pintada, portava faca, galões de combustível e uma arma (ficou comprovado depois que era de brinquedo, mas quem era ameaçado não tinha como saber isso). Boas intenções não tinha e isso pesou na hora de atirar. Num primeiro momento, ao ver o vídeo em que o homem é morto, parece que ele já tinha se entregado. Nesse caso, os policiais não deveriam disparar. Mas é impressão: a conversa para rendição ainda ocorria e o tomador de reféns empunhava com a mão esquerda uma arma na cintura. Ele joga fora uma bolsa com líquidos inflamáveis, em suposto gesto de boa vontade, mas ainda portava a pistola (de brinquedo, agora se sabe). Então parece que não há erro do atirador de elite (sniper), que aproveitou a oportunidade para neutralizar a ameaça. Uma decisão tomada em conjunto com seus superiores, sempre difícil, mas por vezes necessária.
Isso é diferente de disparar contra qualquer pessoa armada na rua, como prega o governador do Rio, Wilson Witzel. Ninguém gosta de bandido armado, mas o governador deve pensar no risco que esse tipo de atitude enseja, sobretudo para quem está perto do alvo e nada tem a ver com crimes.