
Ao centrar forças no embate direto com a China, os Estados Unidos mexem não só nas tarifas — que sobem para 125% no caso do gigante asiático e são "igualadas" em 10% aos outros países —, mas também nos potenciais efeitos para produtos do agro brasileiro. Eventuais "vantagens" no mercado interno americano, em razão de o Brasil ter ficado antes com a "menor tarifa", ficam agora diluídos.
Por outro lado, o impacto indireto, ocupando vácuos deixados pelos EUA, pode ser ampliado. É o caso, por exemplo, das compras chineses de soja.
— Onde se pode ganhar é (no mercado) na China. Com essas tarifas (entre China e EUA), não existe comércio entre os dois países. É um repeteco do que aconteceu na primeira guerra comercial do Trump — avalia Renan Hein dos Santos, assessor de Relações Internacionais da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
A reprise do primeiro embate não traz boas lembranças aos produtores americanos. Em relação à soja, os EUA fizeram um mergulho em "V" na participação das exportações de soja para a China. A recuperação da fatia perdida vinha sendo feita desde 2020 — mas ainda não tinha alcançado os níveis pré-guerra comercial, mostram dados do USDA e Secex/Brasil compilados pelo Farmdoc, da Universidade de Illinois nos EUA.
Para se ter uma ideia, o share americano de exportação de soja, em 2016, era de 62%. No ano de 2018, quando veio a disputa comercial, caiu para 18% — e a do produto brasileiro, por exemplo, saiu de 75% para 82% em igual comparação. No ano passado, chegava a 52% — e a do Brasil, 73%.
— Enquanto o Brasil é o maior fornecedor capaz de substituir os EUA no mercado chinês, outros países também podem se beneficiar, como Argentina e Paraguai, terceiro e quarto maiores exportadores de soja. À medida que a guerra comercial escala, vai remodelando o mercado global de soja em tempo real — analisa Joana Colussi, pesquisadora e extensionista do Departamento de Economia Agrícola da Universidade de Illinois.
Santos acrescenta que, na etapa atual, outros itens do agro brasileiro, como milho e "até trigo" podem ter uma janela de espaço ampliado na China, bem como carne suína e bovina.