A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

Mais do que soja, milho e arroz, a safra de verão deste ano no Estado vai colher solidariedade. É o primeiro cultivo da estação após a enchente que inundou lavouras gaúchas em maio do ano passado. E que, para muitos produtores, só foi possível de ser semeado graças a uma corrente de solidariedade que se formou no setor produtivo.
É o caso de Angelita Hermes, produtora de leite no interior de Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, que cultiva milho para alimentar seus animais:
— Essa colheita é fruto da ajuda que recebemos. Não é apenas milho, é a prova de que, com apoio e determinação, podemos seguir em frente.
Para ela, maio ficou no calendário como um mês para ser esquecido. Em poucas horas, na manhã de uma sexta-feira, ela viu a sua propriedade ser invadida pelo Rio Pardinho. Fotos, roupas, alimentos e 120 das suas vacas foram levadas pela corrente d'água.
— Foi um desespero muito grande — lembra a produtora.
À medida que a água começou a secar — e o rio, recuar —, foi a solidariedade que tomou conta da propriedade de Angelita. De roupas à alimentação, as doações começaram pelos vizinhos, depois, pela comunidade do entorno e, então, por entidades maiores, enumera Angelita. Entre elas, a Emater de Rio Pardo, do Vale do Sol e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS).
— A ajuda foi muito grande. O Senar, por exemplo, doou feno para os animais e sementes do milho que vou colher nesta safra — diz a produtora.
Além da família de Angelita, o Senar-RS ajudou mais de 3,5 mil famílias rurais em 111 municípios. Foram doados milhares de cestas básicas e itens essenciais e distribuídas mais de 4,8 mi toneladas de forragem, realizadas 4,1 mil análises de solo, além de 3,2 mil horas de operação de máquinas destinadas à limpeza e recuperação das propriedades.
Com a expectativa de colher o fruto dessa solidariedade, Angelita, no entanto, pondera suas projeções. Segundo ela, ainda "há muita coisa a ser feita":
— É um recomeço. Se a gente não tivesse toda essa ajuda, não teria nem condições de recomeçar. Mas também não parei de trabalhar um dia sequer. Foi um passo de cada vez.