A mobilização de produtores familiares realizada nesta quarta-feira (19), na região das Missões, tem uma dupla função. A primeira é chamar a atenção para a necessidade da renegociação dos débitos acumulados nas últimas cinco safras por problemas climáticos, na sua maioria, de falta de chuva. A outra, mostrar que estão prontos para novas manifestações, se necessário for. Em conjunto, os agricultores estabeleceram 15 de abril como data limite para uma resposta do governo.
A 11ª edição do Grito de Alerta, organizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), levou, segundo a entidade, cerca de 6 mil produtores às ruas de São Luiz Gonzaga. A escolha do município foi representativa: a região foi afetada pelas últimas quatro estiagens e pela cheia do ano passado.
Com bandeiras, cestas com alimentos e faixas, onde podiam ser lidas frases como "A Força de quem arranca comida e esperança de pedra", cumpriram um roteiro de peregrinação pelos bancos da cidade.
— Vamos dar um prazo (para a tomada de ações) e, se o governo não atender, voltaremos a fazer mobilizações fortes — afirmou à coluna Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS.
O dirigente acrescentou que é preciso haver unidade entre os parlamentares gaúchos quanto à solução buscada para o endividamento, "assim como as entidades fizeram". A proposta de securitização, mecanismo que transforma os débitos acumulados em uma conta única, com prazo e carência para pagar, tem sido defendida pelas representações do agro do RS.
Dois projetos de lei tratam do tema: um no Senado, de autoria de Luis Carlos Heinze, e outro na Câmara, de autoria do deputado Pedro Westphalen.
— Essa não é uma pauta da Fetag, é da agricultura —reforça Joel.
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha, o deputado estadual Elton Weber reforçou a frustração sentida em razão do que classificou como falta de diálogo com os ministros "que deveriam estar tentando resolver a crise":
— O silêncio do governo federal não tem sido nada bom. Na Expodireto (realizada na semana passada), não veio ninguém de Brasília.
Também nesta quarta, aproveitando a participação do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em audiência pública da Comissão de Agricultura do Senado, o tema foi colocado à mesa. O senador Heinze entende ser necessário fazer uma prorrogação de parcelas que estão vencidas ou por vencer, até que saia a solução estruturada para o passivo.