A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

É do outro lado do mundo que um estudante de Medicina Veterinária no Rio Grande do Sul vai buscar conhecimento para aprimorar a pecuária gaúcha. Caetano Farret, da Universidade de Passo Fundo (UPF), embarca rumo ao Japão em maio, para oito meses de estudos na renomada Universidade de Yamaguchi. Jovem de 21 anos, ele foi o vencedor de uma bolsa única do programa da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA, sigla em inglês) para a América Latina para conhecer a atividade in loco.
Ainda que possa parecer estranho, afinal, a pecuária é uma atividade tradicional e consolidada no Rio Grande do Sul, o professor e orientador de Caetano na UPF, Ricardo Zanella, garante que "há muito o que se aprender" com o país asiático.
O Japão, segundo Zanella, é referência em produção de carne de qualidade graças a um cruzamento há milhares de anos de animais utilizados para puxar arado nas lavouras de arroz. Entre as características que conferem qualidade às proteínas do país asiático, continua o professor, está o alto nível de marmoreio (gordura intramuscular que dá sabor e maciez aos cortes), a exemplo da encontrada na raça wagyu, que produz uma das carnes mais caras do mundo.
Para a criação da raça no Estado, por exemplo, Zanella, que integra a associação desses animais no Brasil e no mundo, tem algumas expectativas:
— (Com a ida de Caetano ao Japão), vamos conseguir dar um salto na produção de animais de uma forma mais eficiente. Já que nós somos relativamente novos nesta raça no Brasil (a criação começou na década de 1990) e, no Japão, existe há milhares de anos.
Já Caetano pretende levar também seus conhecimentos para dentro da propriedade da família, em Cachoeira do Sul, na região central do Estado:
— Penso em me formar (em Medicina Veterinária), fazer mestrado, doutorado ou alguma uma especialização, e aí voltar para a fazenda.
O interesse japonês
O professor da UPF também explicou à coluna o interesse japonês em divulgar a sua cadeia produtiva da carne para países como o Brasil. Segundo ele, pelo fato de ser uma ilha, com extensão pequena de terras, a quantidade de alimentos que produz é limitada. Zanella estima que apenas 33% das proteínas que os japoneses consomem são produzidas no país asiático.
— Para o Japão, portanto, é interessante ensinar o seu jeito de produzir para países em desenvolvimento como o Brasil. Porque aí poderão comprar produto com boa qualidade, excelência e preço mais baixo — esclarece o professor.