
O anúncio de que carne, café, açúcar, milho e azeite terão tarifas de importação zeradas veio com a justificativa de que é preciso reduzir o preço dos produtos que vão à mesa do brasileiro.
Os números de janeiro do IPCA, considerado pelo governo como a inflação oficial, mostram que alimentos e bebidas tiveram uma alta de 7,25% no acumulado de 12 meses. É o maior percentual de aumento entre os nove grupos do índice, porém não o único. Na verdade, apenas habitação tem leve recuo, de 0,36%. A segunda maior variação é com educação, 6,63% e a terceira, com saúde e cuidados pessoais, 5,96%.
A pergunta que se faz é se as medidas terão o poder de domar essas altas, e de que forma se relacionam com a produção. Vale lembrar que o Brasil é o maior produtor mundial de café e de açúcar, e entre os três maiores no milho. A exceção é o azeite de oliva, quase na totalidade importado.
— A inflação é de demanda, não de oferta, causada pelo desequilíbrio macroeconômico resultante dos impulsos fiscais, e a redução das alíquotas a zero não torna o produto importado mais barato do que o brasileiro. Além disso, as medidas são baixistas para os preços agrícolas e completamente ineficazes para os consumidores — aponta Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
O índice de inflação do agronegócio, medido pela entidade mensalmente, mostra que no ano passado, os preços recebidos pelo produtor (IIPR) fecharam com queda de 8,10%. No mesmo período de comparação, o IPCA Alimentos tinha subido 7,69%. Luz acrescenta:
— O arroz, a soja, o trigo estão mais baixos. Preço ao produtor é uma coisa, ao consumidor outra. Um tem a ver com oferta e demanda de commodity, outro com equilíbrio macro.