A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Vem do fundo do oceano Antártico uma possível alternativa ao uso de agroquímicos nas lavouras. Foi o que descobriram cientistas brasileiros e norte-americanos ao detectarem um fungo em sedimentos marinhos que produz substâncias com potencial biopesticida. A ideia é que, com essa matéria-prima, identificada como Penicillium palitans, e mais alguns anos de estudo, seja possível desenvolver diferentes tipos de bioinsumos ao agronegócio.
Em análises laboratoriais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Embrapa Meio Ambiente e no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, pesquisadores vinculados ao Programa Antártico Brasileiro identificaram que o fungo coletado é capaz de inibir a germinação de sementes de plantas daninhas e combater fungos patogênicos.
— Então, por exemplo, se essas substâncias em larga escala inibirem 50% das ervas daninhas e aumentarem a produção de grãos, o Brasil já estaria economizando muito — dimensiona Luiz Henrique Rosa, um dos estudiosos envolvidos neste trabalho.
A transformação desses compostos em produtos comerciais, no entanto, exige testes adicionais para avaliar sua segurança, estabilidade e eficiência em campo, adianta Rosa. E, sobre um prazo, acrescenta:
— Tudo depende do investimento. Se você tiver investimento do governo, se você tiver investimento do setor privado, a gente tem capacidade, equipe e qualidade científica para, em dois anos, ter um bioproduto no mercado.
Tendência de estudos na Antártica
Segundo Rosa, há uma tendência de estudos voltados à identificação de substâncias para o desenvolvimento de bioprodutos na Antártica. É que o continente abriga uma biodiversidade microbiana ainda pouco explorada, com organismos adaptados a condições extremas, como temperaturas congelantes e alta salinidade. Essas características, continua o pesquisador, tornam o continente um local promissor para a busca de novos compostos para driblar desafios na agricultura, por exemplo.
— Para se ter uma ideia, a maior diversidade biológica que tem na Antártica é microbiana, de micro-organismos. Não é de ave, não é de baleia, nem planta — acrescenta Rosa.