A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Conhecida por rótulos premiados Brasil afora, a vinícola Guatambu voltou a identificar, neste ano, sintomas de deriva de herbicidas hormonais nos 20 hectares de vinhedos localizados no município de Dom Pedrito, na Campanha — de galhos e folhas contorcidos à redução de produtividade. Só em volume, para esta safra, que está em plena colheita na propriedade, Gabriela Pötter, diretora técnica da empresa, calcula uma perda de pelo menos 40% na produção de uvas.
No entanto, acrescenta, o problema é recorrente:
— De 2017 a 2024, registramos um prejuízo de mais de R$ 21 milhões.
Nesse período, todas as análise das amostras enviadas pela vinícola a um laboratório confirmaram a presença do 2,4-D — herbicida hormonal utilizado para eliminar a buva, erva daninha que afeta lavouras de soja. Se aplicado incorretamente, o 2,4-D pode ser transportado pelo vento por até 30 quilômetros — fenômeno conhecido como deriva. E, ao alcançar videiras, pode acelerar a morte das plantas e reduzir a produtividade.
Em 2025, no entanto, o químico não foi identificado na amostra enviada pela Guatambu.
— Mas os sintomas são muito claros de 2,4-D — argumenta a diretora técnica da Guatambu.
Além da Guatambu, outras vinícolas e produtores de uvas, oliva, noz pecan, maçãs e abelhas têm relatado o problema nesta safra à coluna.
Diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria Estadual da Agricultura, Ricardo Felicetti reconhece que o problema cresceu no último ano:
— O trabalho da Secretaria da Agricultura tem surtido efeito na maioria das regiões do Estado, mas, em algumas regiões, realmente, há uma maior dificuldade, seja pela composição geográfica do local, seja pela dificuldade de sojicultores e outras culturas cumprirem o que está ordenado nas normativas.
Enquanto em 2023 a pasta registrou 45 amostras que apresentaram laudo positivo para o herbicida, em 2024, esse número subiu para 108.
Provocado pelo Campo e Lavoura, o Ministério Público informou que irá marcar uma reunião com a Secretaria Estadual da Agricultura para retomar o assunto.
— O problema ainda não se resolveu e parece estar concentrado na região da Campanha, pelas condições de temperatura, vento e pressão, que diferem do resto do Estado — concordou promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre, Felipe Teixeira Neto.