A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
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A notícia do tamanho final da área plantada com arroz no Rio Grande do Sul chegou como uma "surpresa" ao setor produtivo. Mais do que se concretizar maior do que o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) desenhava, mostrou, em números, a resiliência dos produtores da Região Central, que foram duramente afetados pela enchente, apresentaram dificuldade na conclusão da semeadura e, mesmo assim, concluíram e avançaram alguns hectares. O esforço, no entanto, não deve se converter em uma colheita mais farta, adiantou a instituição e a Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz) à coluna.
Apresentada na última Expointer, a intenção inicial de semeadura do Irga para a safra 2024/2025 era de um crescimento de 5,3% se comparado com o ciclo anterior, com 948,3 mil hectares. Agora, conforme divulgou a instituição durante a programação da Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Capão do Leão, no sul do Estado, nesta terça-feira (18), fechou com uma alta de 7,8%, com 970,2 mil hectares. Para Flávia Tomita, diretora técnica da autarquia, "foi uma boa surpresa".
Ainda assim, a diretora técnica lembra que uma área maior do que a prevista não é, necessariamente, sinônimo de safra recorde — e, adianta, neste caso, não será mesmo. Segundo ela, porque parte da área da Região Central — que representa quase 13% da área total do Estado — acabou tendo de ser plantada em janeiro, fora da janela ideal de cultivo, que é até 15 de novembro.
— Há estudos do Irga que apontam que, a cada semana que se atrasa o plantio, se perde um tanto em produtividade — justifica Flávia.
Outro fator que atrasou a semeadura na Região Central foi a enchente. Além do calendário de plantio, a água levou a infraestrutura de produção, como solo e canais de irrigação, que tiveram de ser recuperados.
Vale lembrar também que o cultivo na Região Central é realizado principalmente por pequenos e médios produtores, com áreas de até 50 hectares. O que dificulta ainda mais, em um tempo ábil, a recuperação após uma tragédia climática como a de maio, por questões financeiras, acrescenta Flávia.
Para o diretor executivo e jurídico da Federarroz, Anderson Belloli, a área maior também mostra a aflição que, atualmente, vivem os agricultores:
— Muitos correram para semear para ter alguma renda ainda neste ano, em meio às dívidas que estão batendo à porta.
Aliás
O tamanho final da área semeada com arroz também ficou abaixo do que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou, em seu último levantamento, para o Estado: 951,9 mil hectares. Inicialmente, no entanto, a estatal projetava 988 mil hectares com o cereal — número que, na ocasião, foi alvo de críticas da Federarroz.