A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
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Em meio a relatos recorrentes de prejuízos na região da Campanha, o Ministério Público decidiu retomar a pauta da deriva de herbicidas hormonais junto ao governo do Estado. Promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre, Felipe Teixeira Neto adiantou à coluna que organizará uma reunião nos próximos dias com a Secretaria Estadual da Agricultura "para entender o que pode ser feito" sobre o assunto.
De Dom Pedrito, na Campanha, a vinícola Guatambu, por exemplo, estima perder 40% da produção de uva nesta safra. A suspeita da empresa é da má aplicação do herbicida hormonal 2,4-D, que, possivelmente, foi transportado pelo vento. O químico é comumente utilizado para eliminar a buva, erva daninha que afeta lavouras de soja. Nas videiras, pode acelerar a morte das plantas e reduzir a produtividade.
— Os sintomas (de galhos e folhas retorcidas à perda de produtividade) deixam muito claro que foi deriva de 2,4-D — afirmou a diretora técnica da Guatambu, Gabriela Pötter.
Relatos de prejuízos como esse se multiplicam entre produtores de uvas, oliva, noz pecan, maçãs e abelhas na mesma região. É por isso que, para Teixeira Neto, o problema, agora, "parece estar regionalizado".
Diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria Estadual da Agricultura, Ricardo Felicetti concorda:
— O trabalho da Secretaria da Agricultura tem surtido efeito na maioria das regiões do Estado, mas, em algumas, realmente, há uma maior dificuldade, seja pela composição geográfica do local, seja pela dificuldade de sojicultores e de produtores de outras culturas cumprirem o que está ordenado nas normativas.
Além disso, segundo Felicetti, o número de ocorrências do químico cresceu no último ano. Enquanto em 2023 a pasta registrou 45 amostras que apresentaram laudo positivo para o herbicida, em 2024, esse número subiu para 108. Possivelmente, explica, em razão do El Niño — e não do La Niña, como estava publicado até as 15h24 desta quarta-feira (19):
— Muitos produtores tiveram que aproveitar a janela de plantio possível, que foi curta, em meio ao excesso de chuva.
Atualmente, há uma série de regras obrigatórias para aplicação de herbicidas hormonais no Estado, que envolvem desde a capacitação do aplicador até a orientação técnica obrigatória das revendas com os clientes.
Em tempo
- Sobre a falta de verba no final do ano passado, que "congelou" a análises de deriva de herbicidas hormonais no Estado, Felicetti informou à coluna que os recursos para este ano já foram realocados. O momento mais crítico, ou seja, quando a quantidade de análises é mais solicitada, é a partir de setembro, antes do plantio da soja — ideal para a aplicação de 2,4-D.
- Além disso, no final do ano passado, produtores da Região Central chegaram a elaborar a "Carta de Jaguari", com 11 reivindicações relacionadas ao problema de deriva no Estado. A pauta será trazida à mesa em audiência pública na Assembleia Legislativa a ser marcada em março, informou Hélio Marchioro, diretor executivo da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), que organizou a iniciativa na ocasião.