O jornalista Danton Boatini Júnior colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

Alternativas para a redução de práticas como a marcação a fogo e o uso indiscriminado de antibióticos estão entre as tendências citadas em uma cartilha publicada recentemente sobre bem-estar animal na criação de bovinos no país.
O documento intitulado "Guia de Recomendações sobre Como Melhorar o Bem-Estar dos Bovinos no Brasil" foi elaborado pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS), entidade que congrega mais de 60 organizações de todos os elos da cadeia produtiva. A iniciativa surgiu a partir de uma discussão dentro do grupo de trabalho voltado ao bem-estar animal.
Evitar gritos e atos agressivos e adotar bandeiras de manejo, além dos cuidados com o transporte dos animais, também estão entre as práticas recomendadas pela cartilha.
No caso da marcação a fogo, uma das alternativas citadas no documento foi implementada recentemente pelo governo do Estado de São Paulo. O novo Programa Estadual de Controle da Brucelose e Tuberculose Animal exclui a obrigatoriedade do uso da marca a fogo na face para a identificação de terneiras vacinadas contra a brucelose, que pode ser substituída por um identificador auricular (botton) na orelha esquerda do animal.
Ainda assim, a marca a fogo para a identificação dos bovinos é o método mais usado no Brasil, previsto pelas leis nº 4.714 de 29 de junho de 1965 e nº 12.097, de 24 de novembro de 2009.
— Muitas dessas práticas já fazem parte do dia a dia do homem do campo. Evoluímos nesse sentido, no entendimento do conceito de bem-estar animal, ou seja, o respeito ao animal, ao ambiente onde ele está inserido e à própria segurança das pessoas que estão nessa lida no campo — disse a médica veterinária Ana Doralina Menezes, presidente da MBPS, ao Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha.
Além de uma questão de saúde pública e de ética, o bem-estar animal tem impacto também econômico. Segundo a dirigente da entidade, as boas práticas podem levar a um aumento de produtividade:
— O objetivo também é facilitar o manejo e que esse animal esteja cada vez mais inserido de forma confortável, plenamente, dentro do seu ambiente. E o resultado de tudo isso, o que é? Produção, produtividade. São coisas que caminham juntas.
O mesmo vale para a remuneração ao produtor, segundo Ana Doralina:
— Estamos entregando garantias, e isso se transforma em remuneração, em diferença de valor, principalmente no mercado internacional.
A informação sobre as condições de produção da carne tem sido demandada pelos consumidores tanto no mercado interno quanto fora do país — uma boa parcela dá preferência a produtos que atendam aos preceitos do bem-estar animal. Por isso, segundo Ana Doralina, um dos desafios do setor é trabalhar o diálogo com esse público:
— Nós sabemos que nós fazemos (o bem-estar animal), mas nós temos que, sim, melhorar muito a comunicação.
Com 84 páginas, o guia de recomendações está disponível para download gratuito, em formato PDF, no site pecuariasustentavel.org.br.