A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20) traz uma dupla expectativa sobre o impacto do novo governo ao agronegócio brasileiro. A primeira delas é a possibilidade do favorecimento do comércio de produtos agropecuários do Brasil com países importadores em razão da promessa de Trump de políticas comerciais protecionistas. E a segunda pode vir na mesma moeda, como outro efeito dessa medida. Com a adoção de ações protecionistas, quando pode-se acirrar a concorrência entre Brasil e EUA, que já competem mercados internacionais com produtos agrícolas. É o que avaliam Antonio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), e Leandro Gilio, pesquisador do Insper Agro Global.
Uma das principais consequências elencadas pelos dois técnicos pode ser a retomada da guerra comercial entre EUA e China — que foi a tônica da primeira gestão de Trump. E é neste cenário que o Brasil pode se favorecer, mais uma vez, com o redirecionamento da demanda chinesa de grãos.
Na avaliação do economista-chefe da Farsul, isso, inclusive, já está ocorrendo, se compararmos o volume importado da soja brasileira pela China com o da americana:
— Em 2024, a China importou bem mais do que precisava e importou do Brasil. Diminuiu muito as importações americanas e aumentou muito as importações brasileiras, justamente para fazer estoque, para se preparar para dar resposta aos EUA. E olha que o Trump era só um candidato.
O pesquisador do Insper Agro Global concorda, mas, assim como Da Luz, também pondera o tamanho desse benefício:
— Até porque não é tão interessante para a China ficar muito dependente do Brasil. Para os chineses, é interessante ter fornecedor no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul.
Já na relação dos EUA com o Brasil, a mesma postura protecionista de Trump também pode afetar o agronegócio nacional. Da Luz cita a possibilidade do retorno de políticas de subsídio aos produtores americanos, o que, na avaliação do economista, gera uma competição “desleal” com os produtores brasileiros.
Outra consequência possível, conforme o dirigente Farsul, é o da limitação da ampliação de produtos brasileiros no mercado americano. Para entender o tamanho desse mercado, os Estados Unidos foram o segundo principal destino dos produtos agropecuários brasileiros no ano passado, com exportações de US$ 12 bilhões, respondendo por 7,4% do total exportado pelo agronegócio no ano. Os embarques concentram-se em café verde, celulose, carne bovina in natura, suco de laranja e couro, segundo dados do sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro. Já o Brasil importou US$ 1,028 bilhão em produtos do agronegócio americano no último ano.