Período em que tradicionalmente os preços do gado tendem a cair, pela maior oferta, a primavera tem mostrado um cenário diferente neste ano no Rio Grande do Sul. As cotações mapeadas semanalmente pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS, mostram uma elevação em todas as categorias — já observada em outras regiões do país.
— A partir da segunda quinzena de agosto, costuma haver uma redução no preço do boi no Estado, em razão da superoferta. Isso não aconteceu, e os preços entraram setembro firmes — comenta Júlio Barcellos, coordenador do Nespro/UFRGS.
Ele reforça que esse aumento ocorreu no momento em que os preços ao produtor estavam muito baixos. E o que provocou essa mudança? Há fatores locais, ou seja, dentro do Estado, e outros nacionais.
Seca, exportações e consumo
No território gaúcho, o atraso no plantio da última safra de soja levou também a colheitas mais tardias. A isso se somou a calamidade da cheia, e o resultado foi uma mudança na pecuária. Barcellos explica que houve atraso na alimentação de inverno do gado.
— O preparo para o plantio da soja também atrasou, fazendo com que o gado fique mais tempo no pasto. Isso represa a oferta. Não teremos a avalanche de gado oriundo das pastagens — diz o coordenador.
Ele acrescenta que o movimento de alta acaba recuperando um pouco a pecuária gaúcha, “que vinha muito mal”. Nesta semana, o quilo vivo do gado gordo no Estado fechou, na média, a R$ 9,40, aumento de 1,6% sobre a semana anterior.
Há de ser considerada ainda a situação no Brasil: a persistência da seca, a retomada nas exportações e o leve aquecimento da economia são fatores que valorizaram as cotações. Com o preço maior, há um “pequeno recuo na entrada de carnes” de outras regiões no mercado do RS. Por fim, há a reversão no ciclo da pecuária, após o avanço dos abates de fêmeas. Fatores que, combinados, trazem a perspectiva de que os patamares valorizados se mantenham.