Depois da mobilização em Porto Xavier, na fronteira do Estado com a vizinha Argentina, produtores de leite oferecem uma "trégua" temporária. Com prazo para acabar: 30 dias. Essa foi a decisão dos agricultores presentes no protesto — cerca de 1,8 mil, segundo a Federação dos Trabalhadores. E veio a partir do aceno de novas articulações que podem dar respostas às demandas apresentadas para estancar a crise na atividade.
Um dos pontos solicitados, a formação de estoques via Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), esteve em pauta de reunião interministerial na tarde desta terça-feira. Presidente da autarquia, Edegar Pretto disse à coluna que o "governo está focado em encontrar saídas" e "anunciará em breve as ações para todo o país". O dirigente informou que "a Conab pode e está preparada para realizar a compra pública do leite".
— A assembleia (com os produtores) deu 30 dias e, se o governo não avançar, retomam as mobilizações — afirmou Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária da Assembleia Legislativa do RS, Elton Weber, esteve na mobilização e resumiu:
— O agricultor não quer esmola, quer condições iguais para produzir.
A fala chama a atenção para uma das grandes preocupações do momento para produtores de leite: o aumento expressivo das importações do Mercosul. Com custos mais baixos e subsídios do governo, os países do bloco conseguem ter um valor "imbatível". O resultado aparece nos dados de importação. De janeiro a junho, o volume de lácteos em geral comprado de Argentina, Uruguai e Paraguai somou 137,17 mil toneladas, um acréscimo de 283% sobre igual período do ano passado.
O pedido é para que a União tente restringir essa entrada. Ou via taxação, o que parece pouco provável, ou por políticas de estímulo à produção. Angelo Sartor, diretor tesoureiro do Sindilat, acrescentou:
— Estamos carentes de ações específicas que busquem a retenção do produtor no campo e a operação de tradicionais indústrias de lácteos.
Outra reivindicação é para que haja mudanças nas regras dos financiamentos do Pronaf. Uma reunião agendada para hoje, com o Banco Central e presença de representantes da Contag e do presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, Heitor Schuch, vai debater o tema.