Na lista das reivindicações feitas pelo setor de leite, as medidas anunciadas até agora pelo governo federal são avaliadas como um copo meio cheio, mas também, meio vazio. A primeira percepção fica por conta de iniciativas como a liberação dos R$ 100 milhões que permitirão a aquisição de 3,7 mil toneladas de leite em pó para a formação de estoques públicos. Isso permitirá que se reduza a pressão do excesso de oferta no mercado, que tem derrubado o preço pago ao produtor em plena entressafra. A ponderação de entidades do setor é de que essa é uma das diferentes medidas necessárias.
— Vamos enxugar gelo. É importante? Seria se tivesse junto algo que barrasse a importação ou algum subsídio — avalia Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), em referência ao fato de que a quantidade a ser comprada é muito inferior ao volume adquirido dos países vizinhos.
Coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado (Fetraf-RS), Douglas Cenci considera importante a compra, apesar de considerar o valor pequeno.
— A solução da crise depende de um conjunto de medidas, a compra de leite é uma delas. Precisamos avançar na redução das importações, auxiliar os agricultores com recursos e desenvolver programas que aumentem a nossa competitividade — reforça Cenci.
Presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto contrapõe que essa compra é “uma ação necessária”, um “gelo que precisa ser secado”, entre várias ações avaliadas pelo governo.
— Estamos ainda sob o orçamento do governo passado — diz Pretto, acrescentando que o valor empenhando decorre de um remanejamento de rubrica.
Na terça-feira (15), uma resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex) havia estabelecido a ampliação da alíquota de importação de queijo e manteiga de países do Mercosul para 18%. A iniciativa foi igualmente celebrada. A ressalva das entidades, no entanto, é de que não abrange o produto de maior volume de entrada: o leite em pó.
Nota de conjuntura da Embrapa Gado de Leite divulgada nesta quarta-feira (16) aponta que as importações de janeiro a julho chegaram a 1,237 bilhão de litros, o maior volume dos últimos 20 anos.