Sem dúvida, a presença do fenômeno El Niño — que deve ser forte, mas pode ser super — é um fator importante a ser considerado na hora de projetar os números da safra de inverno do Rio Grande do Sul. Sobretudo porque traz consigo a perspectiva de chuva acima da média quando o excesso de umidade torna-se fator de risco. E esse é um dos ingredientes que ajudam a explicar o encolhimento de 1,5% na área de trigo previsto pelo levantamento inicial da Emater, divulgado nesta quinta-feira (15).
Depois da frustração com a colheita de verão e com crédito restrito, o produtor se ressabia com a perspectiva de ver o clima, mais uma vez, ter potencial de interferir no resultado. E isso o faz adotar a cautela na hora do plantio.
Sozinho, no entanto, o fenômeno não justifica a redução de 12,81% na produção de inverno (incluindo as demais culturas da estação) e de 14% no trigo em relação ao ciclo passado. Nessa conta entram outros fatores. É importante ressaltar que nesse momento, no que diz respeito à produção e produtividade, a base de cálculo é a média dos últimos 10 anos. Isso aponta uma tendência, que poderá ou não se confirmar ao longo da safra. Há ainda de se considerar a base forte de comparação: 2022 foi ano de rendimento e volume recordes no caso do trigo.
— A produtividade no ano passado foi muito acima da média. Tomara que se consiga repetir, mas o desenho não é esse. Tendo um ano já com condição de El Niño, tende a ter uma produtividade dentro da normalidade, talvez. O pacote tecnológico vai ser adequado, mas a condição climática do ano passado foi muito favorável, o que puxou a média — lembra Geomar Corassa, gerente de pesquisa da CCGL e coordenador da Rede Técnica de Cooperativa (RTC).
Levantamento feito pela rede no início de maio indicava área 1,2% maior do que a do ano passado.