A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Com a colheita de verão praticamente encerrada no Estado – há apenas 7% da área de milho por finalizar —, a atenção do produtor gaúcho se volta à safra de inverno. Embora o plantio tenha começado devagarinho em regiões como a de Santa Rosa, no Noroeste, representantes do setor evitam fazer projeções sobre o espaço a ser ocupado pela cultura em razão de um cenário classificado como de incertezas.
— A gente está trabalhando com a possibilidade da área ser mantida. Muito mais por legítima defesa do produtor, que precisa de renda (a safra de verão foi frustada pela estiagem), do que acreditando no resultado — afirma Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS).
Para Hamilton Jardim, coordenador da Comissão de Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), “previsão mesmo só a partir de agosto”:
— Ainda não podemos mensurar o tamanho da safra, mas o produtor já adquiriu sementes, insumos. O que a não sabemos é se tudo o que adquiriu será colocado na cultura do trigo.
Ainda conforme Jardim, essa incerteza se dá por três fatores: falta de crédito rural, previsão de El Niño (que traz como tendência maior volume de chuva) e perspectiva de preços futuros do cereal em baixa. No caso do crédito, explica, falta recurso para o produtor aumentar a área plantada, principalmente depois de mais uma safra de verão frustrada por causa da estiagem.
A possibilidade de chuva expressiva preocupa porque a umidade favorece o desenvolvimento de doenças e prejudica a qualidade do cereal.
— O produtor está pisando em uma areia movediça — resume Jardim.
O boletim semanal da Emater aponta que, da safra de verão, tanto a soja quanto o arroz estão com a colheita tecnicamente encerradas.
No seu levantamento mais recente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou uma queda de 18,6% na produção de trigo no Rio Grande do Sul em relação à safra passada, que foi recorde e chegou a 5,7 milhões de toneladas. Em contrapartida, a área plantada deve se manter em 1,45 milhão de hectares. Para a companhia, o problema deve recair na produtividade.
É por isso, aliás, que a Comissão Setorial do Trigo da Secretaria Estadual da Agricultura se reuniu no último dia 22. No encontro, o grupo emitiu uma nota de alerta, solicitando alocação de maior aporte de crédito rural e para subvenção ao prêmio do seguro rural e apoio ao governo federal na comercialização do cereal por parte da Conab.