A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
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Em ano de atenção redobrada com o clima, não é só a tendência de um El Niño intenso que preocupa os produtores de trigo no Rio Grande do Sul. Os preços do cereal não devem repetir nesta temporada os níveis fora da curva atingidos nos últimos ciclos, quando os efeitos da guerra entre Rússia e a Ucrânia e a incerteza sobre a oferta de trigo mexiam fortemente com o mercado.
A acomodação das produções mundiais tende a fazer com que os preços fiquem pressionados nesta safra, avalia o gerente sênior de relacionamento da HEDGEpoint Global Markets, Andrey Cirolini. Maior exportadora no cenário global, a Rússia se encaminha para colher até 88 milhões de toneladas de trigo em 2023, mantendo sua produção acima da média em cinco anos. A supersafra ainda se soma a grandes estoques do cereal no país, resultado da colheita recorde de 2022.
A oferta robusta a preços competitivos, portanto, pressiona os valores do cereal no mercado, sem expectativa de ganhos excepcionais para os produtores daqui.
— No ano passado, os custos da safra em geral foram altos, mas ainda se tinha boa rentabilidade com os preços que se conseguia na época. Este ano, os custos já são bem menores, principalmente dos fertilizantes, mas os preços já não estão em patamar tão atrativo como no ano passado — afirma o analista.
Também entram na expectativa de preço os fatores internos. Apesar da manutenção na área plantada, em cerca de 1,45 milhão de hectares, a produtividade esperada nas lavouras gaúchas não deve repetir o recorde do ano passado, o que pode levar a uma produção menor. O Rio Grande do Sul colheu mais de 5 milhões de toneladas de trigo em 2022.
O principal motivo para a possível queda no ciclo atual está na ocorrência do El Niño. O fenômeno climático tem a característica de provocar altos volumes de chuva, principalmente no segundo semestre do ano, comprometendo o andamento da colheita. A última safra em que o fenômeno afetou a produção de maneira mais intensa, como a prevista agora, foi a de 2015/2016.
Além disso, combinada com temperaturas mais amenas que o esperado para a época, o excesso da umidade pode prejudicar a qualidade dos cereais.
— Há forte receio quanto ao El Niño, que pode ser problemático para a qualidade do trigo no momento da colheita. É algo que segurou um pouco o aumento de área de plantio. Além de que o produtor está segurando os seus gastos por causa do verão frustrado com a estiagem e falta de financiamento — diz Cirolini.