Apesar da estiagem que prejudicou a safra gaúcha, a soja ainda puxou a receita das exportações do agronegócio do Estado no primeiro trimestre deste ano. Dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria do Planejamento mostram que o faturamento total do setor no período foi de US$ 3,7 bilhões. É o maior valor nominal da série histórica para os meses de janeiro a março e representa uma alta de 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado, apesar da queda de 14,9% em volume. A diferença é explicada pelos preços médios dos produtos, que amorteceram o recuo na quantidade.
A fatia mais representativa veio do complexo soja, que gerou US$ 791,88 milhões, um crescimento de 1,9% sobre igual intervalo do ano passado. Em volume, os embarques ficaram 14,5% menor. Esse resultado, explica o pesquisador do DEEE Sérgio Leusin Júnior, foi determinado pela performance dos embarques de óleo de soja — no grão, houve recuo de 13% em valor e 23% em quantidade.
O motivo do óleo ter puxado o aumento na receita do complexo soja? O espaço deixado no comércio global pelos vizinhos argentinos, que devem colher uma safra 44,4% menor em relação às médias dos últimos cinco anos.
— A Argentina é uma grande exportadora de derivados de soja (óleo e farelo). A quebra de safra lá acaba beneficiando não só a exportação de grãos, mas desses derivados (por outros países). Outra questão é que a elevada demanda por esses produtos tem aquecido o mercado internacional. Além disso, o estoque mundial da soja está em um patamar considerado baixo, e isso acaba dando sustentação ao preço — explica Leusin Júnior.
O desempenho das exportações de janeiro a março, acrescenta o pesquisador, ainda não reflete os efeitos da estiagem do último verão, em razão da base de comparação: as perdas por conta da falta de chuva em 2022 foram ainda mais severas. Tradicionalmente, o segundo trimestre é o de maior peso nas exportações do agronegócio do Rio Grande do Sul. As perspectivas de embarques de soja para esse período são paradoxais. Por um lado, observa o pesquisador, os números indicam crescimento, visto que mesmo com a frustração em relação à colheita, ela deverá ficar acima da produção do ano passado. Por outro, há sinais que apontam na direção contrária: os prêmios negativos pagos pelo grão produzido no Brasil e a desvalorização do câmbio, fator que acaba deixando o grão menos competitivo no mercado global.
Em relação ao primeiro trimestre, os destaques positivos em aumento de receita incluem as carnes, máquinas e implementos agrícolas, fumo, produtos florestais e biocombustíveis.
— Os setores de carnes e máquinas são importantes e vêm registrando crescimento nos últimos nove trimestres — completa Leusin Júnior.
As maiores altas
Dos seis principais setores exportadores do agronegócio gaúcho, cinco tiveram alta de receita no primeiro trimestre, aponta o DEE:
- Os embarques de carnes somaram US$ 655,30 milhões, um incremento de 18,6%;
- No fumo e seus produtos, os US$ 592,14 milhões representam aumento de 20%;
- A soma das exportações de produtos florestais alcançou US$ 424,06 milhões, avanço de 11,6%;
- Vendas externas de máquinas e implementos agrícolas fecharam em US$ 167,67 milhões, crescimento de 29,3%;
- O segmento de soja somou US$ 791,88 milhões, 1,9% a mais;
- O recuo na receita veio do setor de cereais, farinhas e preparações: de 13,3%, somando US$ 673,95 milhões.