Enquanto finaliza a colheita da safra de verão, o produtor gaúcho faz as contas para o planejamento dos cultivos de inverno. No primeiro levantamento feito pela Rede Técnica de Cooperativas (RTC) sobre a intenção de plantio de trigo, o que se desenhou foi um cenário de leve alta na área: 1,2% a mais do que no ano passado. É um percentual singelo, que confere um caráter de estabilidade em relação ao ciclo passado, e que reflete fatores conjunturais. O assunto foi um dos temas abordados no fórum sobre desafios e oportunidades para a cultura realizado nesta sexta-feira (12) pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS), em Restinga Sêca, na Região Central.
— Essa área está muito relacionada ao produtor que ano passado investiu na cultura, mas não investirá mais porque o preço já mudou. Fora que o ano passado foi mais mais seco. Neste, com diagnósticos mostrando um retorno do El Niño (que costuma trazer mais chuva), é mais desafiador — explica Geomar Corassa, gerente de pesquisa da CCGL e coordenador da RTC, sobre as razões para o avanço tímido de espaço à cultura.
O aumento de 1,2% vem como média, porque entre as cooperativas pesquisadas há uma variação que vai desde uma redução de 18% até um crescimento de 25%, com a grande maioria sem oscilação. Corassa explica que os recuos mais expressivos estão onde as áreas de trigo são menores e as altas, em locais mais tradicionais de cultivo.
Presidente da Fecoagro-RS, Paulo Pires acrescenta que o agricultor vive um momento de desestímulo. Mesmo com os custos menores do que na safra de 2022, os valores do trigo não entusiasmam para o investimento, sobretudo depois de nova frustração com a produção de verão.
— Entendemos o sentimento do produtor, mas o que vimos no evento é que podemos transformar o problema em oportunidade. É importante olhar a questão técnica, é o momento de plantar certo. Há estratégia para minimizar os efeitos do El Niño — completa o dirigente.
Levantamento divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta semana também apontou uma estabilidade de área para o trigo no RS.
— Uma das orientações ao produtor é aplicar a agronomia, sem exposição ao risco de forma desnecessária — reforça Corassa.