A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O ano de 2022 foi de motores aquecidos para a indústria nacional de máquinas agrícolas, com altas que se refletiram tanto em vendas no mercado interno quanto em exportações. Apesar do embalo, o setor deve pisar no freio em 2023, sentindo os efeitos conjunturais do crédito caro e da menor demanda.
As projeções de desaquecimento foram traçadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), apresentadas em balanço divulgado nesta terça-feira (7).
Este ano, as vendas de máquinas agrícolas devem recuar 3,5% no país, enquanto as exportações podem ter queda de 13,1%, conforme a entidade.
Em 2022, na esteira do crescimento do agronegócio, as vendas de máquinas agrícolas totalizaram mais de 67,3 mil unidades no ano, um crescimento de 19,4% sobre 2021. Os resultados também foram positivos nos envios ao exterior, com a comercialização de 10,6 mil máquinas e crescimento anual de 7,6%.
Ana Helena Andrade, vice-presidente da Anfavea, destaca dois fatores para as expectativas mais contidas no mercado interno este ano. Um deles vem da própria mecanização do campo nos últimos três anos. Os produtores que fizeram investimentos recentes ampliaram a tecnologia nas suas propriedades, não havendo necessidade de novas aquisições no curto prazo, o que reduz a demanda por novas máquinas.
— Bens de capital as pessoas não renovam porque mudou o modelo. Renovam para mais tecnologia ou porque vão ampliar a produção, e, ainda assim, a máquina que foi adquirida anteriormente vai para outra produção. Está muito ligado a isso — explica Ana Helena.
Outro motivo vem do acesso ao crédito e da disponibilidade de financiamento para os pequenos. Enquanto os produtores de maior porte têm a possibilidade de acesso a recursos privados (como os Fiagros e as LCAs), os menores, que dependem das linhas de financiamento público, enfrentam a escassez:
— Os recursos deste ano safra (do Plano Safra 2022/2023) se esgotaram muito rapidamente. Foram reabertos recentemente com saldos alocados pelo BNDES, mas ainda assim não contamos com um financiamento direcionado para um segmento extremamente dependente deste mecanismo — diz a vice-presidente.
Além disso, embora o Plano Safra não reflita a Selic, os patamares de juros são bastante elevados.
Lançamentos
Entre as novidades que chegam ao mercado este ano, as máquinas que incluem itens de conectividade e sustentabilidade são as que despontam. Os lançamentos devem ser apresentados nas principais feiras de tecnologia para o setor, como a Agrishow, em São Paulo, e a Expodireto, aqui no Rio Grande do Sul.
Segundo Ana Helena, as máquinas que coletam dados levam a agricultura digital para mais próximo de uma agricultura de exatidão de processos. Outra frente é a agricultura sustentável, com a indústria de máquinas cada vez mais aperfeiçoando o uso de energias alternativas, principalmente as produzidas dentro da própria fazenda.