Até poderia ser uma boa notícia, mas não é. A deflação de 9,55% verificada nos custos de produção no Rio Grande do Sul em 2022, como aponta o dado da inflação do agronegócio medido pela Federação da Agricultura (Farsul), está longe de representar um alívio para o bolso do produtor. O motivo? A base de comparação: 2021 foi o ano de maior alta das despesas desde o início da série histórica: 51,39%.
— Ainda é uma safra cara, mas uma queda em relação à base altíssima que se atingiu em 2021. Aquela foi a safra mais cara (do período do levantamento). Se pegarmos o acumulado em 24 meses (2021 e 2022), há uma inflação acumulada de 36,94% — pontua Danielle Guimarães, economista da Farsul.
No ano passado, os fatores que puxaram o índice para baixo foram fertilizantes e taxa de câmbio. Depois de atingir altas estratosféricas no início de 2022, impulsionadas pelas incertezas de abastecimento pós guerra Rússia-Ucrânia, o adubo registrou forte oferta no mercado interno. E isso fez os preços caírem. Ao mesmo tempo, a média do dólar ficou aquém de 2021: R$ 5,16 ante R$ 5,40 (em valores arredondados).
— É muito comum, depois de um ano de recorde, haver a queda, mas continua sendo um patamar elevado — reforça a economista.
É verdade que o indicador de preços recebidos fechou com expansão de 10,36%. Nesse caso, um efeito da estiagem que derrubou a safra gaúcha, aumentando as cotações. Outro ingrediente, explica Danielle, foi o cenário favorável para o trigo, com boa oferta, qualidade e aceitação de mercado:
— Isso não reflete em resultado lucrativo: por um lado, tem menos produto para formar receita e, do outro, um custo acumulado e dois anos de quase 37%.
Para este ano, o atual momento de incertezas trazido pela estiagem torna difícil uma previsão sobre tendência para preços de grãos. E os custos, acrescenta a economista, reflete, dependem de fatores externos.
Inflação do agronegócio
Índice de Inflação dos Custos de Produção (IICP) (acumulado no ano)
- 2011: 5,58%
- 2012: 8,23%
- 2013: 1,94%
- 2014: 3,05%
- 2015: 14,56%
- 2016: -2,45%
- 2017: -0,80%
- 2018: 7,78%
- 2019: -1,18%
- 2020: 7,50%
- 2021: 51,39%
- 2022: -9,55%
Índice de Inflação dos Preços Recebidos pelos Produtores Rurais (IIPR) (acumulado no ano)
- 2011: -2,52%
- 2012: 49,42%
- 2013: 0,62%
- 2014: -6,66%
- 2015: 21,04%
- 2016: 0,34%
- 2017: -11,6%
- 2018: 13,12%
- 2019: 10,68%
- 2020: 80,51%
- 2021: 4,92%
- 2022: 10,36%
Fonte: Índices de Inflação dos Custos de Produção e dos Preços Recebidos pelos Produtores Rurais do Rio Grande do Sul da Farsul