A notícia de que o México suspenderá, por um ano, a tarifa de importação de frango poderia ser mais uma entre tantas oportunidades que o Brasil tem obtido mundo afora. Mas não é. Há um patrimônio implícito nessa e em outras conquistas recentes: a sanidade. É a “blindagem” que o país mantém a duas das maiores dores de cabeça da atualidade, a influenza aviária e a peste suína africana. Ambas causam um grande impacto à produção de aves e de suínos, respectivamente.
Por se manter distante delas e, ao mesmo tempo, ter a estrutura de um grande exportador global, o Brasil ganha acesso diferenciado em relação a seus concorrentes.
— Temos de continuar nesse caminho e investir cada vez mais nos procedimentos de biosseguridade e defesa sanitária. A sanidade é hoje nosso passaporte para mais de 160 países — frisa José Eduardo dos Santos, presidente-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
A medida anunciada pelos mexicanos retrata isso. Produtor de frango (no ano passado, foram 3,72 milhões de toneladas, segundo a União Nacional de Avicultores), o México também precisa importar a proteína para dar conta da demanda interna — em 2021, foram 355,76 mil toneladas. E, assim como os Estados Unidos, importante fornecedor, tem sido afetado pela influenza aviária.
— O Brasil tem complementado a demanda mexicana por carne de frango, colaborando com a indústria local, como em outras oportunidades. Nesse contexto, é esperado que nosso país possa aumentar os volumes para esse destino — completa Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A isenção temporária da tarifa de importação do México vale para qualquer país com acordo sanitário e plantas habilitadas. Com as credenciais que tem, no entanto, incluindo a de maior exportador mundial, o Brasil tende a ganhar a preferência. Entre janeiro e abril deste ano, o México importou 58,5 mil toneladas de frango do Brasil, alta de 128,6% sobre o mesmo período do ano passado.
Exportação do RS em alta
A reboque da conjuntura, o Rio Grande do Sul fechou o primeiro quadrimestre do ano com as exportações de carne de frango em alta, apontam dados divulgados pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). As 243,12 mil toneladas vendidas ao mercado externo representam alta de 8,9% em relação a igual período de 2021. Em receita, o aumento foi de 29,2%, com R$ 454,93 milhões.
O melhor desempenho, pondera José Eduardo dos Santos, presidente da Asgav, reflete uma combinação de fatores. A começar pela questão sanitária, com casos de influenza avícola afetando outros grandes produtores, abrindo um espaço para o Brasil, que nunca registrou a doença. Outro componente vem da guerra Rússia-Ucrânia. E, além disso, a melhora do quadro da pandemia em alguns países traz ajustes à produção da proteína.
— Mas o cenário de custos é outro, mudou. Esse volume todo (exportado) dá condições de as indústrias se oxigenarem — completa o dirigente.